segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Máscaras de ideologias da desideologização


 

 
Ideologia salazarista da não-ideologia
No Estado Novo, versão oficial, não havia ideologia, apenas os superiores interesses da nação. E a verdade é que toda a propaganda salazarista, direito corporativo e direito administrativo incluídos, tudo fizeram para banir essa palavra dos textos e da fala, do pensamento e da comunicação social.
Foi um longo tempo de ideologia salazarista injetada nos livros e manuais, nos jornais e nas revistas como produto não ideológico. Porém, evidente na escolarização reduzida aos mínimos, na neutralização e prisão de pensadores, na censura de livros, jornais e jornalistas, no impedimento de reuniões, no condicionamento industrial e no servilismo inoculado na reverência aos chefes e no subserviente pede deferimento dos requerimentos.
 
Explosão ideológica
Com o 25 de Abril tudo mudou: o vulcão expeliu ideologias para todos os gostos e todas elas com todas as letras.
Mas aos poucos, assente a euforia, foram secas, ridicularizadas umas, esvaziadas outras e mesmo ideologias ganhadoras foram metidas na gaveta. Foi tempo dos empréstimos garantidos pelo ouro que nos obrigaram a depositar em bancos estrangeiros. E também foi o tempo do primeiro FMI e da resignação nacional ao pragmatismo de comer todos os dias. Parêntesis: até a Aspirina, a da Bayer, chegou a faltar nas farmácias!
Nesta fase da história de Portugal, a desideologização foi promovida sob a égide do livre mercado, dos "barões" novos-ricos e do anestesiante "sindicalismo" PS-PSD. Exemplo da pretensa neutralidade ideológica de tal tempo foi o milionário copo-de-água do casamente de uma filha do "sindicalista" "socialista" Torres Couto.
Gente incómoda para o Clube de Bilderberg tem chamado a tal tempo tempo de regabofe, tempo de peculato e de sinais de milagre, o milagre de sinais exteriores de riqueza sem fonte plausível nem investigação eficaz.

Ideologia do deus-mercado
E eis que chega Passos… embora este capítulo já tenha vindo a desabrochar antes dele, então com mais pezinhos de lã.

Ansioso por ribalta, peanha e cordelinhos, Passos empurrou Sócrates borda fora a poder de PEC e mais PEC: o país, o país, o país… meu querido Portugal! Tudo limpo, sem sombra de ideologia, aquela conversa de plástico a que os químicos chamam PPC – 4-Fenil-4-(1-piperidinil)-ciclo-hexanol, mas que os cínicos puros sintetizam como simples charlatanice.
Pois não é que o outro PPC, o agora Pedro do facebook, desenterrou a ideologia ao enterrar os trabalhadores com mais 7% de TSU! Claro que a bem de todos nós, até para benefício dos que ganham 485 euros e que ficarão com menos 34. Uma ninharia, coisa que não ia impedir o "estadista" de cozinhar o bem da arraia-miúda.
A tróica manda baixar os salários e o Pedro, seu pau mandado, zás, não hesita em empobrecer os mais pobres dos pobres. Podia tirar uns trocos aos grandes senhores, aos Amorins e aos Azevedos e até ficava bem no retrato se limasse um pouco dos milhões dos Mexias e dos senhores da banca. E salvaria as aparências se fizesse uns desbastes nos figurões do PSD e do PS que se instalaram nas empresas públicas a título de gestores e se pavoneiam de BM topo de gama nos congressos partidários.

Mas não, a ideologia Chicago boys falou mais alto. E é também ela que o faz acabar com os subsídios de férias e de natal, manobra que mascarou como distribuição pelos doze meses de um dos subsídios reposto. É um pequeno balão de ensaio. Por ora restrito a um setor laboral, mas a apalpar terreno para um passo maior.
É evidente que são passos da passada ideológica de reinstalação da oligarquia do dinheiro grande. E do esmagamento da cidadania, pondo a política ao serviço desse império, agenciada pelos políticos seus serventuários.
Este todo-poderoso deus mercantil, alheio ao desenvolvimento de uma economia assente em profissionais altamente qualificados e tecnologias de ponta e indiferente ao bem-estar do povo é um caminho para o precipício. Que Passos embrulha em celofane economês, mas que não passa de poeira de ultraliberalismo para olhos incautos. Nem o recuo na TSU é tranquilizante, dada a sua rotineira tática da mentir aos portugueses.
Nem para o americano médio o liberalismo selvagem será bom, que as ruas USA estão cheias de sem-abrigo, esse desumano indicador de miséria extrema. E mesmo na União Europeia dos altos PIB, IDH e Gini são mantidos esquemas de solidariedade social que o experimentalismo Passos quer abolir, mascarado pela sua requentada ideologia da não ideologia.

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