segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Salazarismo de 1932-74 apouca Cidadãos de 2016




Estamos no auge dos incêndios florestais, com rara intensidade, muitas casas, matas e lameiros assaltados pelas labaredas.

E os seus donos, familiares, vizinhos e amigos, de coração nas mãos, o sangue em brasa e grande coragem combatem com as armas de que dispõem.

E as televisões mostram-nos incansáveis, desesperados e frustrados. Com toda a justiça.

Mas ao mesmo tempo que registam o seu esforço atribuem-lhes o estatuto de pobres diabos. Subliminarmente!

Por desconhecimento. Por seguidismo abúlico, "todos dizem assim"…

A verdade é que ser jornalista é ser curioso, saber um pouco de história de Portugal e pensar nas palavras que usa.

Pois os repórteres das frentes de combate aos incêndios não se cansam de mencionar populares exaustos, entrevistar populares que defendem as suas terras e de elogiar populares tão determinados.

Soubessem aquela pitada de história, tivessem estudado um pouco mais de propaganda e jamais citariam populares a enfrentar catástrofes pessoais.

Populares é um estigma, a forma depreciativa, minimizadora da dignidade cidadã, usada pela propaganda salazarista para mencionar pessoas comuns, Cidadãos anónimos ou pobres.

Cidadãos a quem o salazarismo colava o rótulo sub-reptício de "inferiores" aos instalados, aos "bem pensantes" e às "pessoas de bem".

Fossem Cidadãos lá bem do interior, do Alentejo, do Minho ou das Flores, arruaceiros alvo de notícias policiais ou Cidadãos de algum modo inconvenientes ao regime e eram etiquetados de populares nos jornais e na televisão. 

E esta técnica de propaganda pegou. Ora, passados tantos anos sobre o 25 de Abril, ainda há populares na boca de jornalistas!

Tantos livros depois, tantos artigos e debates radiofónicos e televisivos sobre a ideologia salazarista e ainda há quem vá beber ao livro de estilo da ditadura!!!

Como se não bastasse escrever Moradores e Vizinhos, Cidadãs e Cidadãos, ou simplesmente pessoas!


António Ferro, o ideólogo da propaganda salazarista, rejubilaria, lá do fundo da tumba, ao ver a sua peçonhenta bússola a orientar jornalistas. Em 2016!


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