Portugal produz muito vinho e muita cortiça, mas também "produz" adegueiros unhas-de-fome.
Muito do vinho engarrafado que enche as prateleiras dos supermercados tem rolhas de aglomerado de cortiça, vulgo corticite. Certamente que o preço destas é menor do que o das verdadeiras rolhas, as autênticas e genuínas representantes do país, as de cortiça.
A corticite tapa, mas fraqueja. Uma garrafa com este tipo de emplastro ao fim de uns meses nas nossas casas* começa a esboroar o granulado. E se este é inócuo, sei lá o efeito do aglomerante ao misturar-se com o tintol.
Isto do ponto de vista sanitário, organolético e até visual ao vermos partículas de cortiça moída a boiar no copo.
Porém, na dimensão exportadora, a rolha de cortiça enobrece os vinhos. Mesmo os vinhos que o Isaltino não bebe [ele tem "recursos" a que o Cidadão comum é alheio...] Um vinho para o bolso do português médio, um vinho aveludado com fim de boca prolongado, que não vá além dos 5 euros, quando exportado dá um salto no preço que o John, a Marie e o Klaus, a Tilda, a Kyra e o Matteo pagam com gosto. Mas não lhes cai no goto a rolheca a desfazer-se. E logo desatam a comparar o vinho e a rolha com as de chapa chilenas e australianas.
Um vinho retrata o país e se Portugal não que ser retratado como produtor de vinhaça barata não deve ombrear com a Austrália ou o Chile, que não têm sobreiros!
O mesmo vinho com rolha de lata, de plástico ou corticite fica, aos olhos do comprador, a léguas do que vem honrado com rolha de cortiça. Porosa para que o néctar respire e elegante para que os olhos brilhem. E o vinho com rolha de cortiça brilha. Fazendo brilhar Portugal.
Todo este arrazoado para dar os Parabéns, muitos Parabéns, à Adega das Mouras de Arraiolos**, que valoriza um vinho de 3,19€ com rolha de cortiça. Um vinho bom.
Que esta opção de enrolhamento fermente em boas mentes. Que os unhas-de-fome façam bem as contas e não vejam apenas os escassos cêntimos de acréscimo nos custos de produção por garrafa expedida. Que olhem para a rolha de cortiça como benefício estratégico, multiplicador de vendas.
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NB O Formigarras não tem ações nem comissões da Herdade das Mouras da Arraiolos, apenas apreço pelos seus vinhos e rolhas de cortiça.
* Caro leitor, estimada leitora, guarde as garrafas de vinho deitadas, caso contrário pode ter surpresas desagradáveis.
** www.mouras.pt
* Caro leitor, estimada leitora, guarde as garrafas de vinho deitadas, caso contrário pode ter surpresas desagradáveis.
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