Uma fraude e uma mentira, esse integracionismo.
Uma mentira demonstrada em Lisboa e no Porto, durante muitas décadas, antes da atual onda praxeira. De facto, nunca nenhum estudante destas academias se lamentou de deficiente acolhimento e não havia aí qualquer praxe!
E a verdade, a verdade sem malabarismos argumentativos nem
truques retóricos, é que é nas aulas, nos intervalos, na cantina e nas
associações de estudantes que, conversa a conversa, olhar a olhar, os colegas
se sintonizam e se vão sentido da casa.
Os novos a perguntar onde é isto e aquilo, os mais velhos a sugerir visitas aqui e ali, manuais mais baratos e horas de atletismo. E todos, alunos, professores e funcionários, a sentirem empatias, a marcarem distâncias ou a construírem amizades.
Nada disto é novidade. É assim desde que se começam a desenhar
as asinhas dos a
e a pôr as pintinhas nos i. E sempre que se
muda de escola o processo repete-se. Onde é a cantina? Que tal a comida? A gaja da
biblioteca é muita boa! O Sacana de Química 1 faz-me sono. Pois, mas a de
Materiais 2 deixa-te de olho esbugalhado toda a aula e não dá más notas...
Tal como fora da escola. É assim na vida, aos poucos, entre
informação e diversão, brincadeiras e petiscos, tristezas e alegrias, que as
pessoas normais se integram numa qualquer comunidade. Escolar, laboral, de
lazer, nalguns casos para a vida. Pessoas normais!
E aquele mito é também uma fraude porque não são rituais grotescos como fossar
como porcos, simular sexo ou encharcar alguém de tinta que integram seja lá
quem for. Para já não falar nos crimes cometidos sob disfarce de praxe.
Eis o que a praxe da Universidade do Algarve reserva aos
seus caloiros:
b) Ser moderado no
uso da palavra, respondendo apenas quando interpelado;
c) Deverá ser
servil, obediente e resignada;
d) A besta não tem
opinião sobre a matéria;
e) A besta de modo
curial terá que ser peremptória quanto á sua abstinência a actos
de onanismo e
reflexos misóginos ou apandríacos;
f) A besta não ri,
logo não mostra os dentes;
g) A besta não olha
nos olhos;
i) A besta terá que
se manter sempre num plano inferior ao dos praxantes;
j) A besta
mostrar-se-á sempre respeitosa para com a INSIGNE PERSONA, tanto verbalmente
como através da sua linguagem corporal;
l) A besta não
reclama;
n) A besta nunca
pode falar mais alto que um INSIGNE PERSONA;
p) A besta suplica
para ser mais praxada;
q) A besta não fala
ao telemóvel, excepto com expressa autorização dos praxantes;
r) A besta deve
zelar pelo bem-estar dos seus praxantes, disponibilizando-se sempre para
aumentar o seu conforto;
s) A besta nunca
anda sozinha na rua;
t) A besta ocupa
sempre o último lugar de uma fila;
u) A besta deverá
cumprimentar respeitosamente todo e qualquer estudante universitário desta
Instituição;
v) A besta é modesta
e humilde;
O antigo Ministro do Ensino Superior, Mariano Gago, pôs há
dias o dedo na ferida: as praxes educam para o fascismo.
Portugal precisa de rapazes e raparigas dignos, capazes de
se afirmarem no campo das ciências, artes e tecnologias, mas também no domínio
da dignidade humana.
E as praxes em nada contribuem para a edificação de uma
cultura de civismo, cidadania ativa, com a ética a nortear as suas atitudes.
Por isso, o mito integrador das praxes mais não é do que um
disfarce de um certo salazarismo requentado que temos de combater e extirpar quanto antes.
Basta de humilhação e não mais mortes induzidas por bárbaros em cores de gato-pingado!
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