Sempre fui corretamente tratado no Hospital da Luz. Com uma
exceção.
Sempre ouvi Senhor aos
atendedores e repete-se o Senhor no
diálogo com os enfermeiros.
Volto a ouvir Senhor dos
técnicos de imagiologia e não há telefonista que esqueça o Senhor.
De igual modo, os médicos de qualquer especialidade têm o Senhor na ponta da língua. Não me lembro de exceção
médica neste domínio.
Conclusão, a generalidade dos profissionais do Hospital da
Luz sabe o que é e pratica cortesia profissional. Com uma exceção, o quisto, o Laboratório de
Análises Clínicas, no piso – 1.
O quisto é certamente benigno, suscetível, portanto, de
fácil erradicação. A verdade é que todos os que trabalham naquela casa são feitos
da mesma massa, massa moldável com o fermento profissional.
Mas apesar dessa mesma base, os clientes deste laboratório
são apenas chamados pelo nome. Em flagrante contraste com o resto da
instituição.
Maria, João, Frederico, Silvina, Teotónio. Sim, com os
respetivos apelidos. Mas sem Senhor nem Senhora e nunca Senhora Dona, ou
simplesmente Dona, o padrão convencional
português de cortesia para mulheres.
Como se trata de um estabelecimento de saúde, basta a direção
do hospital diagnosticar a maleita, perceber que tem um quisto no seu tecido
social e administra a terapêutica.
Em três tempos, promova o gestor do Laboratório de Análises Clínicas a
inoculação de Senhor na comunicação presencial
dos seus técnicos e extirpa-se a exceção.
Uma ou outra resistência, um arrastar de pés, uns sorrisos
amarelos, tudo isto pode ocorrer durante o tratamento de melhoria da cortesia.
Pois pode, mas são efeitos secundários, igualmente benignos. E em pouco tempo os
seus técnicos adotam Senhor, Senhora Dona e Dona como
procedimento de rotina, tal como rotineira é a inserção da agulha na veia e a
rotulagem dos tubos, o que tão bem sabem fazer.
Entretanto, o laboratório melhora a sua imagem, o hospital
nivela por cima a qualidade do acolhimento e os profissionais são olhados com
outros olhos. Olhos de retribuição da cortesia.
E adeus quisto!
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