Autor desconhecido
Não há português que tenha fé numa justa
pena de prisão sempre que um ladrão de milhões é levado a tribunal.
O mesmo acontece quando os jornais dão
eco a diligências do Ministério Público que envolvem corrupção de milhões.
Seja no futebol, na banca ou em grandes
negócios, sempre que cheira a esturro, o Zé Povinho antevê manobras de
empastelamento da justiça, sorri das tonitruantes declarações de acusados e
seus advogados.
Está escaldado; escaldado com as provas
invalidadas, escaldado com as prescrições e escaldado com as penas suspensas.
As prescrições e a suspensão de penas
são duas chagas nacionais. Além de outras doenças graves.
Os processos judiciais arrastam-se,
eternizam-se, e quando são divulgadas as prescrições não são pedidas contas a
quem os arrastou para o lamaçal do esquecimento e da impunidade.
O Zé não acredita em acaso. Sabe que há
sistemas informáticos…
O ministra Van Dunem afirmou, em
entrevista ao EXPRESSO do dia 19, que está preocupada com a corrupção. Não
parece, pouco se vê.
Do que vem a público não transparecem
iniciativas marcantes, roturas com a paz podre legislativa atual. E são
necessárias mudanças, radicais nalguns casos.
Não é aceitável que um corrupto
condenado a cinco anos de cadeia tenha a pena suspensa. O Código Penal
permite-a “atendendo à personalidade do agente, às condições da sua vida, à sua
conduta anterior e posterior ao crime…”
Aqui o Zé já não sorri, ri-se à
gargalhada. Até não aguentar mais a dor de barriga de tanto rir.
E ri-se de as condições de vida dos
pobres os levarem às grades e as dos engravatados, com uma oleada teia de
contactos, os libertarem como livres passarões.
Mas a risota começa bem antes da pena
suspensa.
E há forma de o bom do Zé Povinho levar
a justiça a sério. Desde que esta seja verdadeiramente igualitária.
Quando vir o dia…
O dia em que os factos prevalecem sobre
os procedimentos e a procura da verdade não seja travada por lacunas, omissões e
prescrições nem manobras dilatórias.
O dia em que nenhum juiz derreta tempo e
energia, saber, isenção e bom senso em sentenças quilométricas a fingirem tese
de mestrado.
O dia em que os recursos judiciais sejam
resolvidos em poucas semanas.
O dia em que declarações destas transmitam
ao Cidadão Português a firme convicção de que nenhum tribunal as levará a sério:
Operação Marquês
Sócrates
defende que "investigação secreta" é ilegal
https://www.jn.pt/justica/interior/socrates-defende-que-investigacao-secreta-e-ilegal-10493128.html