domingo, 27 de janeiro de 2019

O dia em que o Zé Povinho acreditará na justiça


Autor desconhecido

Não há português que tenha fé numa justa pena de prisão sempre que um ladrão de milhões é levado a tribunal.

O mesmo acontece quando os jornais dão eco a diligências do Ministério Público que envolvem corrupção de milhões.

Seja no futebol, na banca ou em grandes negócios, sempre que cheira a esturro, o Zé Povinho antevê manobras de empastelamento da justiça, sorri das tonitruantes declarações de acusados e seus advogados.

Está escaldado; escaldado com as provas invalidadas, escaldado com as prescrições e escaldado com as penas suspensas.

As prescrições e a suspensão de penas são duas chagas nacionais. Além de outras doenças graves.

Os processos judiciais arrastam-se, eternizam-se, e quando são divulgadas as prescrições não são pedidas contas a quem os arrastou para o lamaçal do esquecimento e da impunidade.

O Zé não acredita em acaso. Sabe que há sistemas informáticos…

O ministra Van Dunem afirmou, em entrevista ao EXPRESSO do dia 19, que está preocupada com a corrupção. Não parece, pouco se vê.

Do que vem a público não transparecem iniciativas marcantes, roturas com a paz podre legislativa atual. E são necessárias mudanças, radicais nalguns casos.

Não é aceitável que um corrupto condenado a cinco anos de cadeia tenha a pena suspensa. O Código Penal permite-a “atendendo à personalidade do agente, às condições da sua vida, à sua conduta anterior e posterior ao crime…”

Aqui o Zé já não sorri, ri-se à gargalhada. Até não aguentar mais a dor de barriga de tanto rir.

E ri-se de as condições de vida dos pobres os levarem às grades e as dos engravatados, com uma oleada teia de contactos, os libertarem como livres passarões.

Mas a risota começa bem antes da pena suspensa.

E há forma de o bom do Zé Povinho levar a justiça a sério. Desde que esta seja verdadeiramente igualitária.

Quando vir o dia…

O dia em que os factos prevalecem sobre os procedimentos e a procura da verdade não seja travada por lacunas, omissões e prescrições nem manobras dilatórias.

O dia em que nenhum juiz derreta tempo e energia, saber, isenção e bom senso em sentenças quilométricas a fingirem tese de mestrado.

O dia em que os recursos judiciais sejam resolvidos em poucas semanas.

O dia em que declarações destas transmitam ao Cidadão Português a firme convicção de que nenhum tribunal as levará a sério:

Operação Marquês
Sócrates defende que "investigação secreta" é ilegal
https://www.jn.pt/justica/interior/socrates-defende-que-investigacao-secreta-e-ilegal-10493128.html

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