Crónica
Para dizer a verdade nem a conhecia, nem a fiquei a conhecer. E posso jurar a pés juntos que, se me voltar a cruzar com ela, não a reconheço, pois tudo foi muito rápido, rapidíssimo. Nunca lhe tinha posto a vista em cima, mas de repente, zás, entra por ali adentro, pezinhos de lá, mas, de um momento para o outro, tinha os meus testículos nas mãos.
Não digo que tivesse sido ímpeto instantâneo ou devaneio de juventude, pois já era mulher feita, bem-feita, é certo, mas já com a sua rodagem. Isso garanto, que tanta desenvoltura numa situação daquelas só se explica com uma considerável experiência.
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Eu estava nu, todo nu, nem cuecas tinha, e só me separo delas já nas últimas! Está bom de ver que eu me sentia um pouco constrangido, pois estar ali de papo para o ar sem um cobertor nem um simples lençol, não é muito estimulante. Ainda por cima a sentir-me observado, mirado e remirado…
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Eu tinha chegado cedo, que nestas coisas não gosto de esperas, põem-me nervoso, por isso prefiro resolver logo tudo sem demoras nem esperas. Entrei com passo estugado, mas a tirar as medidas à casa nova, onde entrava pela primeira vez, ainda a cheirar a tinta, tudo muito bem arranjado, muito limpo, higiene irrepreensível. Também era melhor, por aquele preço…
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Tinha sido tudo muito impessoal: chamada atendida com cortesia normalizada, marcação com data, hora e minuto e ainda me ligaram de véspera para confirmar que não faltava. Que sim, claro, estava que não podia…
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Depois, já lá dentro, foi a conversa preliminar, o tirar a roupa, as meias também, disse o dermatologista, que, após a observação, quis fotografar o sinalzinho. Com a colaboração dela, que executou o procedimento com mãos firmes mas delicadas, segurando o escroto com uma enquanto a outra afastava os pêlos púbicos para garantir uma boa imagem da mazela.
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Foi tão eficaz como discreta, pois vendo que eu não estava à-vontade, de olhos ferrados no tecto, virou costas mal o flash disparou. E saiu com um bom dia sumido, atirando as luvas para o saco branco dos descartáveis. Nem sei se terá ouvido o Obrigado, Senhora Enfermeira que o médico lhe dirigiu.
Lisboa, 31 de Julho de 2009
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