domingo, 3 de outubro de 2010

Contito: Zefa

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Zefa
Contito



Inda sontro dia Ti Tóino Zéi tava gabando a fragneti, qu’era como se fosse novinha em folha, sempre pronta pás iscas… Tã boa, tã boa, cá tarde cande lhe meteu a chavi, a magana zuniu, zuniu e nã passou disso. Com um baracinho, inda apertou um tubito que tava meio cediço, ma nada. Osdespois, com um esticanito na chave, o motori deu um estramelo, coisa pôca, e calô-si logo com uma piêra de pirua choca.

A Zefa dele ficô marafada, tã marafada que chorava lágrimas que nem bolegos. Acabavam-se-lhe as andanças de rabo alçado pra todo o lado. Embezerrada, dê tamanho pontapé na canita, a Caturra, ca bicha metia dó, gania, gania, desensofrida, com as ventas arrojo.

O Ti Tóino Zéi dê cabo da paciência, ma nada, parecia que tinha dado uma pataleta na fragneti. Arrumou a turgia e assentô-se no pial da porta do quentali, magicando naquele pedaço de lata, só manhas. Descorçoado, pegou numa enchapota e ca navalhita foi desbastando, foi desbastanto, distraído, até cuma pua se enfiou no sabugo do dedo grandi e aí esperneou:

– Ah, puta da mana, hoji, até o ladrão do tanganho embirra comigo!

Atão a Zefa chigô-se a eli, agachô-si e prantô-lhe uma mão num joelho e disse, já más branda:

– Olha lá, oh Tóino Zéi , nã podes ficar assim tã escarapoado… ind’é piori!

– Iss'é munto bonito, mas qué quê faço sem a fragneti!? Tenho um carrego d'azêtona do rabisco e nã no posso dêxari no frajáli. Ó quéris ficar sem azêti nem conserva pró ano entêro?

– Nã senhori, quero a azêtona, pois atão…

– Nunca me tinha fêto uma pirraça destas, e logo agora… tarraço dum cabrão!

– Qual tarraço qual carapuça, não podes é desanimari. S'aquilo andou sempre, mais muenga menos muenga, nã sará hoji que te vai dar fezes, se calhári é só um quebranto, logo le passa. Oh Tóino Zéi, tará zagolina?

– Oh melhéri, aquilo é a gazóli…

– Mas tem-i!?

O Ti Tóino Zéi nã respondeu, mas alevantou-se e foi pr’o caramachão onde a carrinha ainda tava de porta aberta. Ligou a chave e ficou de olho no coisito piquinino, o azuli, confirmando que o depósito tava vazio. Nem piscla…

Espreitou o motori e nem sináli de fuga; metê-se debaxo, charaviscando, a ver se a desencantava, mas deu no mesmo. Até ca mulheri le bradou, precurando:

– Será ist'aqui, homem?

Era mesmo. Um rasgão a todo o comprimento tinha escalavrado o depósito, que já mal pinguechava.

– And’ê nisto há tantos anos e é a melhéri a descubrir o azar, a porra do buraquinho!

– Buracão, Tóino Zéi! Buracão, qu'é do tamanho da rebera de Selmes; cabe lá o olivali da Herdade da Bujarrona.

E foi assim ca Zefa salvou a conserva e a maquia d'azeti. E que ficou Zefa do buracão, cand’a aldeia soube do assucedido. Mas as maganas das vezinhas, umas trongas, chamam-lhe Zefa buracona; às escondidas, com medo d'algum mondrongo…





Manuel A. Madeira
Lisboa, 17 de Agosto de 2010

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