Há umas décadas, o self-service chegou a Portugal, Stop foi incorporado no Código da Estrada e muita gente passou a fazer uns biscates em part-time. Mas continuámos a falar português.
Entretanto chegaram os informáticos, que nos atafulharam de hubs e passwords, drives e default, tags, sites e up grades.
Até o ministério da Educação, na sua medíocre cretinice
institucional, adotou rankings na
avaliação da produtividade escolar.
E uns quantos enfatuados, invejosos da parolice ministerial,
usam listagens e printar com o mesmo ar emproado com que disparam vistes e comprastes.
O que já não é falar
português.
Entretanto, a investigação e o mercado, a publicidade e a vaidade
não param de nos presentear com smartphones
e tablets e outros gadgets. E todos os dias nos seduzem com
aggressive
marketing , low cost e outras
sales techniques.
E a gestão foi contaminada por um tal frenesim de
linguarejar à gringo que um aprendiz de management
consultant não se priva do flaveur
de behavior.
E enquanto o account manager oferece custom surveys e garante um rápido break-even, o presidente de CA, de olho nos stakeholders, debita os soundbytes make money, revenue e profit
com fervor de noviço.
Dúvidas!?
Perguntem ao Bava da PT, que vos dará um comprovativo oral recheado de 80% de buzzwords.
Mas será isso falar
português!?
Com a música, mais um terramoto assolou a nossa língua. Cultural programmers em íntima partnership com senior producers, atentos às
best songs do world music enchem
estádios onde não se canta uma palavra em português.
Os music
agents rejubilam, o português é desprezado, massacrado e diluído e cá vamos
nós, "cantando e rindo". Com razões para chorar.
Ora é hora de refletir.
As línguas vivas vivem do que as envolve, e Portugal,
estando na interceção de tantas tendências linguísticas, está no seio do
império americano.
Naturalmente que as tecnologias e a música americanas, os
negócios e o cinema americanos, a comida e a cultura americanas nos
influenciam.
Sempre assim foi e assim continuará. O efeito centrípeto das
culturas dominantes alicia seguidores a arrasa tradições. Mas queremos demolir o
português!?
Às vezes parece que sim, utilitariamente umas, outras tantas
por mimetismo pacóvio.
Seja como for, é exagerado tanto anglicismo. Por tudo e por
nada lá vem o palavrão anglo-saxónico. E o paradoxo é mais evidente quando os
falantes cacarejam crioulo luso-americano para interlocutores pouco rodados nessa
língua ou alheios à gíria setorial em inglês.
Deixam uma forte marca de fracos comunicadores, de
vendedores que mascaram as limitações do produto com palavras ocas. Mas dão
especialmente uma indelével imagem de pequenez, de poucachinhos de saltos
altos.
Bom será que não esqueçamos que os utilizadores multinacionais dessa língua
franca planetária não mexerão uma palha em defesa do português. Esse é um
esforço nosso.
Uma necessidade nossa: os portugueses defenderem o português.
Sem comentários:
Enviar um comentário