A meio da manhã, manhã do comercial dia de S. Valentim,
frente à florista havia sete clientes, dos quais duas mulheres.
Feitas as contas, esta amostra quiçá representativa, dá uma esmagadora
maioria masculina de 71,5% ofertantes de ramos e raminhos de rosas vermelhas e orquídeas
turquesa, tulipas encarnadas e antúrios brancos.
Sim senhor, aquela caseira estatística mostra como hoje
proliferaram os gestos ternurentos, de amor profundo ou de longo
companheirismo.
Pois é, foi um dia bom para o negócio, arrebitando a procura
interna, animando a produção floral e alavancando algum lava culpas.
É que ontem e anteontem, e antes, num certo dia, aqui
atrasado, alguns desta máscula amostra, plantados junto aos carrinhos de compras
dos supermercados só debitaram, com ar enjoado:
– Não tinhas falado em farinha?
– Não queres levar batatas?
– Precisas de peixe?
– Chega a fruta que lá tens?
– Já compraste o leite?
– Devias levar mais pão!
– Ainda passas no talho?
– Era melhor levares cerveja, que ontem bebi a última!
Como se a carne não fosse também para eles, tal como a fruta,
o pão e tudo o que, como enfastiados basbaques, se limitam a levar nos ditos
carrinhos, que empurram como trôpegos agrilhoados.
E é este segmento da nossa sociedade, essa gente que "não tem jeito para essas coisas", que se
limpa com meia dúzia de narcisos amarelos.
Não serão todos, é mais que certo, mas são muitos, muitos
mesmo. O gajo do Mercedes e o teu vizinho canhoto, o teu compadre Melrão e tu,
tu e os teus camaradas da suecada das quartas, uns marialvas fora de tempo. E
alguns destes basbaques nem um murcho lírio oferecem no dia de anos.
Por isso, aqui e agora, o Fomigarras
oferece aquela belíssima rosa desmaiada às mulheres e namoradas, filhas e
companheiras dos super basbaques, os basbaques de super que não mexem uma
palha nem para oferecer uma flor.
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