Sim, Miró foi um artista genial. Não há controvérsia sobre
isso. Ponto. Deixou uma vasta obra, com peças muito marcantes, por vezes de uma
originalidade peculiar.
Mas nem tudo o que fez foi arte.
Produziu belas obras, coisas assim assim e também riscou
papel, pintalgou telas e desperdiçou tintas. O surrealismo é um campo muito
aberto, tolera bem o ensaio e o devaneio, a chispa criativa, mas há limites. E se
uma pinga a mais inspira artistas, também lhes destrambelha as fronteiras...
Imagino que num bem regado fim de concurs de castells, numa esconsa tasquita de Valls,
alguém lhe tenha pedido um recuerdo e
ele, cambaleante, tenha posto uns borrões na toalha de
papel. Imagino.
E imagino igualmente que o feliz contemplado tenha
transmitido isso
como herança. E é fácil imaginar que o atual depositário o traga nas
palminhas! Afinal, tem marca Miró.
Mas daí a considerar toda
a produção de Miró como arte vai um passo surreal. Um seu chapéu, a caneta que
usou naquela bodega ou o sapato
perdido num encierro
de certa Sanfermines
são tão icónicos como muitos dos seus trabalhos.
Mas esses não são objetos artísticos, tal como não o são alguns dos riscos,
pintas e borrões Miró. Vários dos quadros de cima falam por si. A não ser que o rei vá
nu...
A verdade é que ombreiam com milhares de coisas de milhões de
crianças que, em todo o mundo, são iniciadas na diferenciação de nomes e cores
e no manejo de tintas, pastas e pincéis. Quem não tem um par de exemplares
desses gatafunhos infantis numa qualquer gaveta!?
E tu, se fosse teu aquele lá de cima, o primeiro, deitava-lo fora!? Eu não caía nessa.
Apesar de não ser arte, o carimbo Miró fez desse seu delirante riscado uma peça de museu. Que vale ouro, tal é o valor de certas miragens. Miragens fabricadas por ideólogos que riscam o gosto alheio, fazendo crer que é de mau-gosto não gostar de tudo o que um génio constrói.
Apesar de não ser arte, o carimbo Miró fez desse seu delirante riscado uma peça de museu. Que vale ouro, tal é o valor de certas miragens. Miragens fabricadas por ideólogos que riscam o gosto alheio, fazendo crer que é de mau-gosto não gostar de tudo o que um génio constrói.
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