terça-feira, 21 de julho de 2009
O Bacorinho do Torga
Contito
Leu com prazer os Contos da Montanha e gostou mais de uns do que doutros, o que é normal. O que não é normal, foi ter ficado obcecado com o bacorinho. A cena da criança recém-nascida a mamar na mama pequena, bonita, da Cacilda, deixou-o embevecido. Mas ficou a magicar no facto de o autor ter descrito a criança como se de um bacorinho se tratasse: “O pequeno parecia um bacorinho no peito...” Um bacorinho a mamar numa maminha daquelas?!
Vislumbrar uma rapariga a preparar-se para dar de mamar atiça-lhe a curiosidade. Sempre se conheceu assim. Se está longe, estuga o passo para já estar por perto quando a criança põe a boca no mamilo. Se mãe e filho lhe aparecem ao virar da esquina, pára de supetão e, cavalheiro, observava-os discretamente, faz que olha para qualquer outra coisa, disfarçando as espreitadelas de esguelha.
Desde muito novo que estas cenas o atraem e nunca foi capaz de lhes resistir. Nem tenta. Exercem sobre si uma tão poderosa atracção, fixação irresistível, que um dia deu por si a pensar se tal atitude seria normal. Tem-se por homem equilibrado e jura que é um cidadão respeitador dos bons princípios de civilidade. Certinho com a esposa, não tem frustrações que o ponham guloso, de olho nos generosos bustos que se lhe oferecem minuto a minuto.
Bebé a mamar numa mama jovem é outra coisa. Não é sensualidade o que ali vê! Vê amor, muito amor e carinho e uma elegância de gestos que o extasiam. A cena transmite-lhe sempre uma intensa sensação de profundo deleite: a delicadeza da jovem mãe a pegar no filho e a aproximar-lhe a mama da boquita, os lábios a tactearem à procura do mamilo e, quando a barriguita está cheia, os sorrisos saciados encantam-no.
Porém, a cena do Miguel Torga não lhe sai da cabeça. Um bacorinho a mamar na mama da rapariga?!
Oh homem, o que é que tem? É uma forma de ternura rústica para descrever a cena, só isso. Aquilo é um conto. Não te esqueças que o Torga viveu muitos anos no meio da serra, cercado de gado por todo o lado e a ouvir histórias de bichos de casa e das brenhas.
Mas a razão hoje não lhe comanda os pensamentos e, durante toda a viagem para Coimbra, nenhum argumento contrariava a ideia que se foi avolumando. O bacorinho não lhe saía da cabeça, até sentia as dores que provocava nos mamilos da Cacilda.
Só pode ser peçonha!!! concluiu. Tinha de exorcizar esta peçonha... tinha de se vingar daquele bacorinho, que a Cacilda merece mais respeito!
Parou para almoçar. E sentiu um grande alívio mal ferrou os dentes num bacorinho bem tostado!!! Outro, não o do conto da Cacilda, um da Mealhada com a pele estaladiça! Um delicioso exorcismo...
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário