terça-feira, 21 de julho de 2009

Pernas no Pescoço

Contito Foi um dia em cheio, cheio de orquídeas, boa disposição e fotografias delas e deles, das lagartas e dos insectos e também dos homens e das mulheres do grupo. E também uma grande surpresa. Eu não conhecia ninguém, mas, em pouco tempo, aquele grupinho simpático de velhos amigos da natureza integrou-me cordialmente e quando dei por mim estavam quebradas as barreiras. Começáramos pela orquídea piramidal, Anacamptis pyramidalis para os peritos; e também para mim, que assim vos mostro que já sei botanicar um pouco. Fomos serra acima e eu muito longe de pensar o quanto este passeio botânico me marcaria. O guia identificou depois a conhecida por Macaquinhos Pendurados, por, em certa posição, as suas pétalas se parecerem com esses animais. Também nos mostrou a Malacosoma neustria, para mim uma simples lagarta de cores vivas, mas que associei, vá-se lá saber porquê, à gravata de noivo orgulhoso da sua noiva. Mais tarde, almoçámos junto ao marco geodésico, lá no alto, sobre a ravina, com um mar azul a pedir tanta atenção como o farnel partilhado como bons amigos. Amigos, não mais que isso, garanto. Pensando bem, até podia ter sido nessa altura que ela se insinuou, apesar de os mais perspicazes não terem dado por nada. Nem eu! Sob ameaça de chuva, descemos o trilho íngreme a passo estugado. E fizemos as observações finais de plantas e as últimas fotos de orquídeas já debaixo de água. Ainda me interrogo se não terá sido mesmo aí, naquela paisagem bucólica, num prado verdinho com vacas a pastarem pachorrentas, que ela se decidiu. O último quilómetro foi em acelerado, para fugir ao aguaceiro que não nos largava. Ainda fomos aos mexilhões do Meco para encerrar a actividade. Pensava eu e muito enganado estava. Depois das despedidas cordiais e sem que eu me apercebesse, sem ter a mínima ideia do que estava a acontecer, algo estava em andamento. Só vim a saber mais tarde. E nas minhas costas, não tenho a mínima dúvida. Detesto situações ambíguas, mas pior é quando me envolvem sem eu ser ouvido nem achado. Fico desvairado. O tempo foi passando e eu muito longe de me imaginar nas garras que se preparavam para me cravar. Passou um dia, passaram dois, passou uma semana e, de repente, dou por ela. Aparece-me sem pré-aviso e eu fico… numa aflição! Mas recompus-me. Primeiro timidamente, depois, cada vez mais decidido, deitei-lhe as mãos. E foi uma manhã intensa, mãos frenéticas, por aqui e por ali, por dentro e por fora, embora tenha de confessar que foi uma coisa inconclusiva, se me entendem… Até que ela me pôs as pernas no pescoço!!! Aí entrei num frenesim descontrolado e, depois de uma batalha extenuante, dei finalmente conta do recado. Num clímax eufórico, tinha-a ali à minha mercê, agarradinha. Agarrei-a com toda a força… com tanta força que a esborrachei: esborrachei a carraça que me infernizara toda a manhã. Lisboa, 29 de Abril de 2009

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