Relva caiu esgotado. Psicologicamente exausto, ele o
confessou. Faltou-lhe a estaleca para resistir aos dedos que, com razão e por
todo o país, lhe apontaram o descaramento, a indignidade da traficância
"académica" e o elegeram como símbolo nacional da desonestidade.
Nada o define melhor que o simbolismo anedótico que
corporizou. As anedotas, os ditados populares e os ditos jocosos foram reformulados,
com o seu nome como fermento de humor.
E o engenho irónico português, a criatividade dos
desenhadores e a graça dos humoristas tiveram um pico de euforia. Relvas nas
anedotas, Relvas nas larachas de amigos e Relvas nos cartoons proporcionaram aos portugueses fartas gargalhadas,
sorrisos felizes e o júbilo de quem encontrou um escape lúdico para a aldrabice
mascarada de política.
A ambicionada imagem de estadista foi massacrada vezes sem
conta. E substituída por uma auréola de fingido aldrabão. Aldrabão confesso,
relembremo-nos a bem da sanidade mental coletiva.
A última gota veio da juventude. Caiu aos pés dos estudantes
de Gaia que o martirizaram com Grândola,
Vila Morena, e os do ISCTE que o acossaram ao ponto de fugir pela porta dos
fundos, arrastado pelos guarda-costas. Portugal reteve a sua cara de pânico.
Crato apenas picou o balão, que se esvaziava.
Confesso aldrabão já era público e débil se confessou em
discurso oficial. Saiu com um carimbo autocolante. Ele próprio identificou o
seu ponto de
rotura anímica!
Tudo isto nos conduz à antiga sabedoria:
Não queiras
remendão ir além do chinelo!
Ou seja, Miguel Relvas perdeu o pé por ter ido além do seu
chineleco. Malabarista, manobrou as distritais do PSD, empurrou Passos para o
poleiro e aninhou-se sob a sua asa grata. Grata e protetora – Relvas, o não assunto! – mas tinha pés
de barro.
Sem envergadura política nem dignidade pessoal, desboroou-se
perante um povo que não lhe perdoou ter adotado padrões de república de
bananas: ponto
de rotura ético.
Mas deixou um rasto a habilidades e manobras que federá até o bom senso ser restaurado.
O
exemplo-cereja da sua indigente passagem pela Gomes Teixeira é a telenovela angolana
recentemente lançada pela RTP. Encenação primária e mamas e pernas como engodo
em vez de representação é o que fica do servicinho ao cleptocrático regime
angolano. Angola merece ser bem representada e Portugal não precisa que o
dia-a-dia dos angolanos nos seja infantilmente caricaturado.
Num balanço sumário da mancha Relvas, é óbvio que a
sociedade se impôs à classe política. Apesar da placidez comodista de muitos,
apesar da manipulação e do medo ainda serem pratos fortes, Portugal é uma
democracia e a liberdade é bem usada pelos portugueses.
A lição a tirar é que quando as sociedades se norteiam por sólidos
padrões éticos não toleram roturas neste domínio, sejam quais forem os pontos
de rotura anímica dos seus políticos.
Olha-se para a Europa civilizada e vêm-se frequentes tombos
de quem pisa o risco. Em Portugal foi o que se viu, Relvas longamente
impune, o PM querendo abafar o escândalo e o PR, temos PR!?
Moral
da história
Só
um ponto ético elevado evita roturas na dignidade de Portugal. Está na nossa mão, não há Merkl que nos valha.
!!!!!
1 comentário:
E o comentário entrou!!!
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