Das poucas palavras
de esperança neste 25 de Abril
Pronunciadas por Vasco Lourenço no Carmo, ontem de manhã, no
Largo do Carmo, e aqui repescadas da Mensagem da
Associação 25 de Abril na celebração do 40º aniversário
http://www.25abril.org/a25abril/index.php?content=243
Passados 40 anos depois da madrugada que deu origem a “o dia
inicial inteiro e limpo/onde emergimos da noite e do silêncio/e livres
habitamos a substância do tempo” qual o tempo que hoje nos é dado? Cada dia que
passa, assistimos à destruição do positivo que foi construído, em resultado da
acção libertadora de há 40 anos!
O país está vendido, em grande parte e a pataco, ao
estrangeiro! A emigração de muitos portugueses consuma-se, levando consigo
muito do saber e da capacidade indispensáveis à desejada recuperação de
Portugal!
Os roubos permanentes a que os portugueses são sujeitos, da
parte dos que deviam protegê-los e prover pelo seu bem-estar estão a destruir a
esperança no futuro! A ausência de uma justiça igual para todos provoca o
descrédito do que deveria ser um Estado de Direito!
Os detentores do poder assumem-se, cada vez mais, como
herdeiros dos vencidos em 25 de Abril de 1974! As desigualdades, consumadas no
aumento do enriquecimento dos que já têm tudo e no cada vez maior
empobrecimento dos mais desfavorecidos, transforma a nossa sociedade num barril
de pólvora que apenas será sustentável numa nova ditadura opressiva, com o
desaparecimento das mais elementares liberdades.
O medo, pelo futuro, cada vez mais, propaga-se em variados
sectores da sociedade! Como há já alguns anos, manifestamos a nossa indignação
face aos acontecimentos que se estão vivendo em Portugal e configuram, sem a
menor dúvida, um enorme e muito grave descrédito dos representantes políticos,
um logro à confiança dos cidadãos e um desprestígio para o nosso País.
A Democracia baseia-se num pacto social, onde os cidadãos
elegem os que consideram os mais indicados para gerir os assuntos públicos e
para os representar durante um período de tempo previamente acordado.
A Democracia não é, nem pode ser jamais, a concessão a uns
quantos de uma patente de pilhagem para se enriquecerem durante quatro anos ou
mais!
A Democracia tem o seu fundamento na confiança que os
representados têm nos seus representantes e na lealdade destes perante quem os
elegeu. Quando essa confiança é traída e essa lealdade desaparece, o prestígio
e a legitimidade moral da classe política desmoronam-se e o cimento da
Democracia apodrece.
Tudo isto tem-se agravado, cada ano que passa. Porque
continuamos a considerar que a antecâmara do totalitarismo surge quando num
Estado de Direito a classe política perde o seu prestígio, porque se transforma
numa espécie de casta que deixa de servir os interesses de todos para servir
apenas os seus próprios interesses.
E, porque queremos lutar pela manutenção da Democracia, que
apenas será viável pela reafirmação dos valores de Abril, proclamamos a
imperiosa necessidade de: Assunção de um compromisso nacional na defesa e
manutenção do Estado Social que legitimamente satisfaça as necessidades
básicas, erradique a pobreza “vergonha de nós todos”, e abra um caminho de
esperança e de luz para o sector mais desprotegido da sociedade portuguesa que
lhe possibilite o acesso à formação, educação e emprego.
Assunção de um compromisso nacional para a promoção de um
duradouro programa de educação e investigação científica, para qualificação dos
jovens nas áreas fundamentais da globalização.
Assunção de um compromisso nacional para a promoção de um
programa duradouro do sistema judicial, de forma a tornar a justiça mais célere
e mais próxima dos cidadãos, sem descriminação entre pobres e ricos.
Assunção de um compromisso nacional duradouro de um programa
de emprego agregador e integrador dos vários saberes e competências acumuladas,
que incentive o regresso de milhares de “cérebros” forçados à emigração, que
incorpore jovens licenciados, agregue adequados programas de formação para
jovens que abandonaram os estudos, e para trabalhadores activos que necessitem
actualizar e melhorar saberes e competências.
Assunção de um compromisso nacional e duradouro de um
programa de desenvolvimento económico sustentável à adopção dos objectivos
enunciados para a manutenção do Estado Social e dos programas de educação,
justiça e emprego.
O governo e a cobertura que lhe é dada pelo Presidente da
República protagonizam os fautores do “estado a que isto chegou” razão pela
qual não serão eles a quem possa continuar a confiar-se os destinos de
Portugal.
Torna-se, por isso, urgente uma ampla mobilização nacional
para sermos capazes de aproveitando as armas da Democracia mostrar aos
responsáveis pelo “estado a que isto chegou” um cartão vermelho, que os expulse
de campo!
Temos de ser capazes de expulsar os “vendilhões do templo”!
Os desmandos e a tragédia da actual governação não podem continuar!
Igualmente, temos de ser capazes de retornar às Presidências
de boa memória de Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio! O 25 de Abril
foi libertação e festa, passou por participação e desenvolvimento, mas passou
também por retrocesso e desilusão, fruto da corrupção e esbanjamento. Hoje
sofre revanchismo, roubo e destruição.
Que se consubstancia em despudorados ataques à saúde
pública, à educação, à segurança social, ao direito ao trabalho, ao direito a
uma velhice sossegada, e aponta para o fim das liberdades, da soberania e da
democracia.
Temos de ser capazes de ultrapassar os sectarismos, temos de
ter a capacidade de, contrariamente ao que normalmente acontece, e reconhecer o
inimigo comum, mesmo antes de sermos totalmente derrotados. Vencendo o
conformismo, temos de ser capazes de resistir de novo, reconquistar as utopias,
arriscar a rebeldia e renovar a esperança! Recolocados os valores da madrugada
libertadora, nessa altura, vencido o medo, poderemos então retomar a esperança
de continuar a construir Abril!
Viva Portugal!
Viva o 25 de Abril!
25 de Abril de Abril de 2014
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