quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Consultor "Blue"

Contito

O consultor veste blue porque é compliance com o standard do mercado. Este é mandatório e exige uniforme universal, fatos às riscas, fatos tweed de quadrados largos, fatos claros de quadrados estreitos, poucos, e fatos escuros, muitos, mas sempre blue, blue old fashion.

Nas consultoras o industry standard é mais flexível, fatos saia-casaco, aceitando a release calça-casaco e maior diversidade de cores, embora a trend seja, mostly, a do blue-dark-blue.


O paradigma tem mais folgas para as gravatas, permite mais riscas e mais cores, até tolera uns verdes que repugnariam a qualquer lesma da nabiça. Nelas a decoração peitoral está embedded no decote da blusa ou na abertura do camiseiro em generosas vistas com um range variation entre a opulência das super-mega-dotadas e as de planuras a perder de vista que lembram um Alentejo de pequenas colinas.


Tipicamente, um specialist consultant tem um profile próprio de quem integra o staff de um player global. Formatado segundo técnicas certificadas de mentoring é depois injectado num ambiente standardizado de alta performance, quality oriented. Seja um simples software developer, um expert em workflow management ou um gajo da audit da headquarters, tem de ser blue compliance, disso não escapa. Nem quer escapar! Dão-lhe carro…

Também é compliance usar versões updated do crioulo luso-americano do sector. Cada segmento do mercado business consulting tem o seu próprio slang embutido na respectiva framework language.

Esta framework e a Blue Compliance são drivers no competitivo mundo global dos negócios.

Um bom performer desse crioulo luso-americano não tem time out no refresh da listagem das buzzwords do seu repositório. E faz downloads daqui e dali, seja do índice do manual do novo package, de press releases da concorrência ou do que ouviu no workshop e chega a fazer imports daquele senhor muito rico que fala um mix de então é assim,  flavour, há-des e prontus

Demonstrará sempre estar up to date com o state of the art do seu core business. Tem uma performance em que se destaca o seu fino feeling para tudo o que acrescenta valor para o accionista. Pena tolerar em si próprio o “Vistes o que disse o Account Manager?” ou não dar pelo ”Trabalhastes lá, és tu que levas com as complaints que chegam ao Deputy Director”.

Qual iluminado benfazejo, aspergirá as suas reuniões, perdão, os seus briefings, meetings e as sessões de training com o acumulado de sonantes palavrões que tirará do talego, aliás briefcase, à medida da sua necessidade de impressionar incautos.

O seu target está perfeitamente definido. O que lhe interessa mesmo é estar na short list de promissores activos da consulting company. É uma corporation que integra uma network com sólidos partners mundiais, o que exige um behaviour à altura. Não é para todos!

E se o dono da obra se queixar num Steering Committee:
Oh Saragoças de Melo, as mamas da sua consultora dispersam-me, não me deixam ver o "deliverable!” pode sempre responder:

– Por quem é, Senhor Presidente, isso é verdadeiramente “value for money”, um “deploy” desses está à vista de todos. Reparou bem no volume desse intangível "ROI"!?




Lisboa, 23 de Março de 2008


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