A propósito dos aviões militares russos que, nos últimos
dias, se têm aproximado de Portugal e do norte europeu, foram publicadas notícias
alegando terem sido intercetados.
Quer em gíria militar quer simplesmente na língua
portuguesa, intercetar é cruzar trajetórias, mas o que a nossa Força Aérea, a
britânica e a norueguesa fizeram foi o acompanhamento dos ditos aviões russos. Escoltaram-nos.
Colaram-se-lhes à ilharga e terão tentado comunicar com eles,
nem sequer os coagiram a mudar de rota. Ou se o fizeram não passou de
tentativa. Os russos seguiram para onde muito bem entenderam.
Estas incursões soviéticas em espaço aéreo NATO foram,
durante a guerra fria, pão nosso de cada dia, e mesmo nessa época, apesar dos
incidentes, nunca um avião daquela origem foi abatido. Nos casos de mais profunda
penetração do espaço aéreo europeu ocidental, aí sim, havia interceção. Os
caças americanos, britânicos e outros sinalizavam aos pilotos russos que os
impediriam de prosseguir e estes recuavam. Voltavam a território internacional.
Há imagens publicadas de pilotos a cumprimentarem-se de avião para avião no fim da incursão.
A história tem duas faces, pois também aviões NATO invadiam
regularmente as fronteiras da URSS, eram intercetados e voltavam aos seus céus
até novo ensaio deste método de detetar lacunas no controlo do respetivo espaço
aéreo.
Foi um jogo do gato e do rato que durou décadas e que a
estratégia militar russa agora retoma. Com uma variante. É que desta vez os
russos apenas bordejaram territórios sensíveis. Por isso não foram intercetados,
apenas escoltados.
E há duas madeiras de intercetar um avião, militar ou civil.
Através de comunicação rádio e sinais convencionais internacionais, métodos pacíficos
de levar um avião de desviar-se de uma rota ou forçá-lo a tomar outra. Mas
desobedecidos, a interceção efetua-se com meios violentos,
canhões e mísseis.
Mas, que se saiba, jamais os nossos F16 intimidaram os
russos com meios letais. Por isso eles foram até onde queriam, apenas vigiados
por pilotos portugueses.
Senhores militares, senhores jornalistas,
intercetar não é escoltar.
in·ter·ce·tar
verbo transitivo
1. Deter ou interromper no seu curso.
2. Não deixar chegar ao seu destino.
3. Cortar.
4. Pôr obstáculos no meio de.
"intercetar", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/intercetar [consultado em 01-11-2014].
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