quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

O ‘banho’ do Dr. Faria


Ano 1965 ou 66.

CNA – Colégio Nun’Álvares, Tomar.

Numa das noites de cinema a que não fui, não me lembro porquê, resolvi pregar uma partida ao primeiro que voltasse ao quarto.

Armei uma engenhoca com uma caixinha de plástico, um pedaço de fio e um pequeno prego.

Quando já não havia movimento no corredor do primeiro ramo, uns no cinema e outros a dormir, montei o apetrecho.

Numa ranhura da parte superior da ombreira da porta encaixei uma lingueta da caixinha, que ficou na horizontal. Do outro lado desta fiz um furo por onde passei o fio, atando este ao prego, que por sua vez foi cravado no topo da porta.

Verifiquei que ao abrir a porta a caixinha caía e enchi-a com água.

Deitei-me a antecipar a algazarra que seria quando o primeiro colega a regressar do cinema abrisse a porta e ficasse salpicado com a minha rica obra! E adormeci.


Mas acordei com os berros de um imprevisto Dr. Faria:

 – Fora, fora daqui, já lá para baixo!!!

 – Fora, fora daqui, já lá para baixo!!!

E ele que não era de gritar!

Tinha ido ver, como os prefeitos faziam frequentemente, se já todos estávamos deitados e levou com a água da minha engenhoca. Não ficou encharcado, longe disso, a caixita era pequena, ficou salpicado, mas enxovalhado. Ele que andava sempre bem ataviado, tinha sido molhado por um atrevido!

Azar, lá tive de ir para a porta do Dr. Raúl Lopes [diretor].

Tinha corrido mal (o planeamento tem destas!), não me tinha passado pela cabeça que um prefeito abrisse a porta antes de um colega!

Aí fiquei, talvez uma hora, a remoer no castigo que ele me iria dar. Quinze dias sem sair? Um mês? Só quem lá andou é que percebe a proibição de estar tanto tempo sem ir à corredoura, ao mouchão!

Chega o Dr. Raúl Lopes, aplica penas a dois ou três ‘delinquentes” e manda-me entrar:

– Então o que aconteceu?

Contei-lhe a história.

– Ah, ah, ah [gargalhou] e ele ficou todo molhado!? Vai-te lá embora.

 

Tinha-me saído a sorte grande! Estava de bom humor.