quinta-feira, 31 de março de 2011

Belas flores de Águalusa

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Na minha cidade natal, Huambo, podia ouvir, nas noites de vento, o áspero rugido dos leões.

Sempre que conto isto a amigos europeus eles ficam muito impressionados. Não lhes conto, é claro, que morava a quinhentos metros do Jardim Zoológico.

Entre a verdade e a mentira o silêncio dá belas flores.”

José Augusto Águalusa
PÚBLICA, 18.5.2003

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Contito – Chá de boletas

Contito do tempo do meu Avô

50% ficção


Como nos outros anos, a trupe ia a banhos, a Sines, a muitos, muitos quilómetros de Pedrógão do Alentejo. Os sete meninos eram metidos no churrião e no outro dia estavam a brincar na areia.

Por estradas empedradas ou de terra batida, mas também por atalhos nos montados e caminhos entre as hortas, a monotonia da viagem só era quebrada pelas descomposturas da mãe e pelos solavancos. Quando alguém se queixava, a tia Consolação dizia baixinho que era das molas de azinho do churrião. Queria ela dizer que não tinha molas nenhumas, que era igual aos outros carros da casa, que carregavam as coisas do campo, estrume e alfaias ou trigo e pessoal da monda, o que calhasse.

Igual, igual não era, que tinha bancos corridos em vez dos simples taipais e era coberto por um toldo redondo. O que era mesmo igualzinho era a parelha de mulas que o puxava, que tanto era atrelada aos arados e ao trilho como levava a azeitona para o lagar.

Nas paragens para desentorpecer as pernas ou para dar de beber aos animais, os dois manos e as cinco meninas não paravam, sempre numa correria, cheios de curiosidade com tanta coisa que não viam todos os dias. Não era raro que no recomeço da viagem houvesse joelhos e mãos escalavradas, mas nada de choraminguice. Se a mãe não os calava logo, o pai levantava uma sobrancelha e era remédio santo, ficavam de beicinho, mas sossegados.


Ainda longe do destino, o robusto churrião não resistiu a um barranco traiçoeiro e começou a andar aos baldões. Os raios da roda esquerda tinham dado de si, o aro ficou lasso e era perigoso continuar.

Que é que se há-de fazer? onde haverá por aí um abegão? e foram devagarinho até ao Monte da Carrasqueira, cujo dono o pai conhecia de Brinches, onde tinha parentes chegados. Foram muito bem recebidos pela família, que mandou logo chamar o Mestre Xico Quarenta para vir depressa e trazer a ferramenta. E toca de matar e depenar galinhas para o jantar.

Foi uma refeição tardia, mas farta, e a reparação da roda prolongou-se noite adentro, pelo que pernoitaram no monte.

No outro dia, manhãzinha cedo, a família que lhes dera telha, deu-lhes também um lauto pequeno-almoço. Havia pão, leite e requeijão, mel, paio e marmelada e fartura de laranjas e peras, tudo coisas do monte. Pior foi o café, que na casa só se bebia mistura.

Toda a gente à mesa, o ambiente cerimonioso de quem só se vê lá de longe em longe, a mãe de olho na miudagem, não fossem fazer pulantices e o pai com um carão, para prevenir faltas de respeito para com os anfitriões.

Afinal, os miúdos comiam sem travessuras nem entorneiros e não implicavam uns com os outros. Os adultos, esses, falavam das searas, das festas de Serpa e dos amigos e conhecidos quando foi servido o café. O Antoninho, nem esperou pelo açúcar, mal o provou disse logo, numa voz que se podia ouvir em Porto Covo:

 Oh mãe, isto parece chá de boletas!!!

A dona da casa meteu o nariz chávena, como se não tivesse ouvido. O pai tossiu, engasgado, e levantou-se logo, com a desculpa de ir ver se o churrião já estava aparelhado. E a mãe ficou sem pinga de sangue, branca, branca, como se tivesse levado um coice de mula.

Só o senhor Pestana, o dono do monte, reagiu com presença de espírito e humor infantil. Olhou para o garoto, deu uma carcachada e disse-lhe:

Então o menino não gosta!? Olhe que quem bebe café de chicória nunca faz xixi na cama!


Apareceram sorrisos amarelos, olhares comprometidos e adeus muito obrigado. À cautela, no Monte da Carrasqueira nunca mais faltou, lá no fundo da despensa, uma lata de café, 100% café.





Manuel A. Madeira

Lisboa, 1 de Março de 2011

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quarta-feira, 30 de março de 2011

Provincianismo ensombra ideia generosa

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António Champalimaud fez fortuna amparado pelo condicionamento industrial salazarista e foi fustigado quando vendeu um banco a espanhóis.

Redimiu-se deixando milhões em testamento para a Fundação Anna de Sommer Champalimaud e Dr. Carlos Montez Champalimaud (seus pais). Uma ideia louvável desta instituição foi a da criação de um "centro de investigação científica multidisciplinar, translacional e de referência no campo da biomedicina". É o Centro de Investigação para o Desconhecido.

Pois a presidente da Fundação Champalimaud, Leonor Beleza, em tempos figura de proa do PSD de Cavaco Silva, coloca no seu frontispício esta marca provinciana:



Pois o Centro tem de ser conhecido em todo o mundo e o mundo científico fala inglês. Isto é tão verdade como as grandes casas científicas se afirmarem pelos resultados e não pelas etiquetas que colam nos seus portões.

Ao serem reconhecidas pelos trabalhos científicos e tecnológicos, todo o mundo as identifica, mesmo com placas em russo, chinês ou catalão à entrada. Quando quem lá manda tem sentido de história pátria, gosta do seu país e da sua língua.
Não parece ser o caso de Leonor Beleza, que desprezou o português.


De resto, o edifício é imponente, pelo que Formigarras aqui trará algumas das suas curiosas perspetivas.


Uma queda que não mata

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Quadras

Ele há dias azarados,
nos caminhos e na caminha!
Umas vezes eriçados
e outras com mais calminha…


Uma queda que não mata
faz mais forte quem já o é,
que com bons caldos se trata
mais três copos de Enxoé.



Manuel A. Madeira
31.Out. 2010

terça-feira, 29 de março de 2011

Grotesco, porém verosímil

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É um retrato verosímil porque se não é assim andará lá por perto.

Autor desconhecido, pelo que a chapelada se entrega a quem provar pertencer-lhe.

Vivemos dias de diversão

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Diversão
Divertimento; recreio.
Militar.Manobra falsa para desviar a atenção do inimigo do ponto que se quer atacar. http://www.priberam.pt/


Um par de ingleses veio a Portugal e há muita gente divertida com isso.

Os donos de revistas fúteis, seus editores e leitores.
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A tropa que os acolheu com as suas melhores fardas e as espingardas limpinhas e a brilhar também se divertiu. Quem é que não gosta de sair do quartel, espanejando-se que nem pavões!?
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E os "populares" a quem coube a sorte de vislumbrar aqueles dois inúteis divertiu-se à grande. Lá em casa foi uma festa, ele é assim e assado e ela já um pouco passada e mais isto e mais aquilo.

E o governo?

Sócrates respirou de alívio. Enquanto por aí se saracoteiam ninguém pensa na alta da dívida soberana nem na baixa do cinto de cada um e até o Passos passa por bom ator.

É para isto que servem as monarquias, para diversão dos povos.

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Não queremos ficar assim

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A imagem é de uma manifestação de russos contra o nuclear e será resultado do desastre na central japonesa de Fukushima.

É um alerta que impressiona e para levar em conta. As centrais nucleares devem ser desativadas em poucos anos. Nada garante que aquele acidente não se repete num qualquer país, pois não há tecnologia nuclear segura. Agora e no futuro.

Nem sequer estamos a salvo dos efeitos dos acidentes atingirem grande parte da população mundial. Seria uma hecatombe, mas não é uma miragem.

A segurança só se pode alcançar com o desmantelamento de tais engenhos. Se os negócios multi milionários não passarem a perna à vida humana na Terra...

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segunda-feira, 28 de março de 2011

Lisboa é uma mina de ouro

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Ouro toponímico, é bom de ver.

E já agora, carregada de história, de que aqui se juntam documentos sem preço, autênticas preciosidades, tão valiosos como muitos da Torre do Tombo.


Por esta dei mil voltas, pois nunca ouvira falar dela... apesar de ter trabalhado a uma centena de metros dali. E digam-me lá os meus amigos se há coisa mais original!

Qual a cidade do mundo que tem uma rua que não é rua nem travessa, nem sequer beco, rampa ou azinhaga e muito menos avenida, largo ou praça!? Só em Lisboa… e logo com personagem de fado vadio!.

Alcântara-terra

Por outo lado, a cidade elogia da mesma forma gente à margem da lei e quem alimentou pessoas à beira da fome.

À Praça da Armada


Alcântara-mar

E de vias particulares na via pública estamos entendidos...



Trabuqueta é uma espécie de bacamarte, diz o Priberam, e acredito. E se até há Travessa das Almas e Rampa das Necessidades, porque havíamos de nos surpreender com o trabuco neste elenco?
Alcântara-terra

Lapa, à Infante Santo

À Praça da Armada


Para dar alguma cor final aqui fica o municipal


 Calvário

Por hoje, há que tirar o chapéu a este rico filão toponímico. Retomá-lo-emos.
Para os sentimentalões não ficarem de lágrima pendurada, lembro um topónimo especial extinto pelo pudor municipal em nome da modernice.
Em Pedrógão do Alentejo foi uma dor de alma não se terem inspirado na Triste-Feia da capital para lapidar condignamente a Rua da Caganita.

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Música em tons de amarelo

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Apesar da etiqueta, havia vozes castelhanas. Quem sabe se uma internacionalização espanhola para encher melhor a caixa de forro vermelho!

A trupe apalhaçada animou a rua, embolsou agradecimentos e desapareceu à cata de drinks!





Rua Augusta, Lisboa
18.Março.2011

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domingo, 27 de março de 2011

Deolindos - Grande título contra o coitadinhismo

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Recebi a mensagem e dei com uma análise profunda de um cenário de superficialidade. Sem conhecer o autor.

Os Deolindos é um título de grande envergadura, um grito contra o coitadinhismo. É sobretudo um alerta aos jovens, desmistificando a desistência do esforço árduo, denunciando o queixume decadente e, especialmente, um incentivo para que rejeitem ser uma geração espapaçada.

Quem quiser saber mais sobre os Deolindos tem, agora mesmo, cerca de 110.000 resultados Google à sua espera.

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Vitória do malabarista derrota de Portugal

José Sócrates obteve uma vitória clara nas eleições diretas para o cargo de secretário-geral do PS http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1816465

Sem a verticalidade inatacável imprescindível a um governante, o senhor Sócrates, auto proclamado engenheiro, engenheiro domingueiro em boa verdade, estará contente.

O povo, o povo razoável, alfabetizado, decente, que não vota em Cavaco nem se deixa iludir com retórica, esse, desespera.

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Grande surpresa toponímica

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Há tantos topónimos nada convencionais que as surpresas são frequentes. E há também os que nos deixam de boca aberta.

Foi o que aconteceu em Pias, ao dar com o dos mandamentos.

Quais mandamentos? Éticos ou culinários? Médicos? Comerciais? Ou católicos? E neste caso quantos serão?

???


Entre pútegas e vidoeiros

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Pútegas

Serra d'Ossa, 3 Maio 2008


Boleta, a que os eruditos chamam bolota

Alcaria da Serra, 27 Out 2007


Romãs

Alcaria da Serra, 27 Out 2007

Alcaria da Serra, 27 Out 2007


Flor de azinheira

Guadiana, 5 Abril 2008


Sementes de vidoeiro

Serra da Estrela, 22 Set 2007
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sábado, 26 de março de 2011

Idade média aqui mesmo ao lado

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Estes são homens que enfrentam Kadafi e a sua camarilha e intimidam. É que, por cá, correu muito sangue até se respeitarem as convicções de cada um. E não queremos voltar atrás.

O que assusta não são as suas crenças, mas sim as dependências, pois só pessoas muito condicionadas têm posturas destas, catorze séculos depois da criação do islamismo.

Longamente manipuladas, as populações árabes, como tantas outras, têm livre arbítrio limitado. O que torna mais urgente saber quem comanda estes milicianos e que influência os fundamentalistas têm sobre eles. Para os apoiar ou combater.

Talvez seja essa a explicação para a lentidão dos ataques aéreos às tropas do ditador espalhafatoso.

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sexta-feira, 25 de março de 2011

Pomposo, balofo, catavento, ansioso

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O que falta para retratar o pré-candidato?

Estou a vê-lo engolir em seco e tremo só de pensar que lhe darão a mão para o poleiro.
 
O PSD se encarregará de o arrumar. Demasiado tarde!!!

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Queiroz voltou sem tática nem técnica

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Carlos Queiroz insistiu hoje na demissão dos presidentes da Autoridade Antidopagem e Instituto do Desporto, apelando a Cavaco Silva para que tome providências. [Lusa]


Não aprendeu. O que é revelador da sua dimensão.

Tivesse refletido dois segundos e perceberia que foi penalizado pelos palavrões que atirou aos médicos em serviço.

E que o resto foi fruto do seu desempenho desportivo, tão mau técnica como relacionalmente.

Só tinha a ganhar em manter-se caladinho. É que todos nos lembramos dos seus impropérios e das desculpas infantis, saloias, esfarrapadas.

Será que quer ser assado na brasa na praça pública!? Em lume brando...

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Alentejo no seu melhor

Sem comentários para não atrapalhar

Clicar nas imagens para as ampliar.
Ficam melhores.







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quinta-feira, 24 de março de 2011

O ano começou em Março!!!

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A abertura do ano judicial foi, este ano, em Março.

Março, caros concidadãos! Março!!!

Só de elites dementes, parafraseando Marinho Pinto, bastonário dos advogados.

Não foi abertura, foi uma montra do farrapo em que o governo e os juízes, o Cavaco e os deputados transformaram a justiça.

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Cuba – Monarquia de ditadores moribundos

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O antigo presidente cubano Fidel Castro confirmou num artigo de opinião hoje publicado que já não é o líder do Partido Comunista de Cuba. Em 2006, Fidel transferiu as responsabilidades políticas para o irmão, Raul Castro. Nunca chegou a ser feito nenhum anúncio oficial sobre o seu estatuto relativamente à liderança do Partido Comunista.
Que raio de ditadura em que o povo nem sabe quem é o ditador-mor!!!

É preciso o ex-ditador-em-chefe anunciar que renunciou ao mando, em vez de os cubanos serem civilizadamente informados de quem é o quê no aparelho que os domina.

Tudo entre comparsas, com a camarilha a distribuir poleiros, a seu bel prazer e às escondidas de quem dizem representar. Uma farsa, ópera bufa com atores de farda verde.

Apeado e sem cargos, o Castro mano velho afinal tem privilégios de rainha mãe. Último reduto da ditadura cubana, moribundo, devia estar num lar com grades em vez de adiar a libertação de Cuba.
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Lenços brancos a Sócrates

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À conta do PEC atira culpas à oposição e eu espero que os portugueses o atirem a ele borda fora.

Tenho vergonha deste Primeiro Ministro, de não acreditar no Primeiro Ministro de Portugal.

Votei nele uma vez e apreciei a sua capacidade de decisão. E agora abomino a sua beatice falsa, o dizer e desdizer com o mesmo teatro retórico, o permanente engodo, a total falta de fiabilidade.

O descalabro em que nos afundou, sempre a iludir-nos com palavras ocas e esgares de ensaiado fingimento, exigem que o PS se desfaça do licenciado domingueiro. Assim o PS dê primazia a Portugal e não a outros interesses.

Que a sua demissão e subsequentes eleições levem Sócrates para bem longe da vista, que do coração já o banimos há muito.

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quarta-feira, 23 de março de 2011

Contrastes belenenses

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Belém, Lisboa
23.Março.2011

Arte tapada

O negócio tapou os azulejos que, curiosamente, têm data e refletem a atividade e o gosto da época.

Não podiam pôr as caixas noutro local ou estarão fartos da rapariga!?



!!!

terça-feira, 22 de março de 2011

Pitéus de cilarcas

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Duas refeições seguidas de cilarcas é obra. Ainda por cima com cilarcas do campo, tem que se lhe diga!


Pois se as de domingo estavam ótimas, então as de ontem… eram de chorar a pedir por mais.

As primeiras, cuja matéria prima se vê nas imagens, foram apanhadas em Marmelar e oferecidas por uma alma generosa.

As cilarcas do Restaurante O Adro, em Pias, enroladas em ovos mexidos com espargos do campo estavam um pitéu. Com um preâmbulo de torresmos girassol e o posfácio de plumas de porco preto grelhadas só vos digo que a reincidência é inevitável.


Está decidido, antes de acabarem este ano, ainda volto ao Adro. E vou levar uns amigos, que uma obra daquelas merece ser partilhada.

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