Arrumas de encarnado;
Bicas em copos de plástico;
Casal a brindar com as bifanas;
Famílias com putos e miúdas;
Senhora a falar com o cão.
Eis um retrato de tugabola.
Cidadania: reflexões e ficções, humor e contradições. Contitos de bichos e de certa bicharada. Imagens com algo a contar.
Arrumas de encarnado;
Bicas em copos de plástico;
Casal a brindar com as bifanas;
Famílias com putos e miúdas;
Senhora a falar com o cão.
Eis um retrato de tugabola.
A geringonça morreu. De alvirrubras fasquias, goradas ambições e sonsos amores traídos.
Que tal e qual fénix!? Não surpreenderia o Portugal inconstitucionalmente cristão às mãos do renascido Pedro Santos.
Para iludir UE/FMI/cavaquistão e atrair indecisos melhor chamar-lhe caranguejola? Ou tranquitana?
A
carraça andou vários dias a passear pelo meu corpo.
Chegada da Serra de Grândola, não terá encontrado
ninho acolhedor e qual inspetor, inspecionou. Mas não encontrou encanto em
nenhum recanto, prega ou retiro húmido.
Mas passeou, passeou, até que fundeou. Ou seja,
cravou fundo os dispositivos de fixação e sucção. Andou nisto uma semana.
Entretanto, há dois, três dias, apareceu comichão no
tronco, lateral, um pouco acima da anca.
Coçadela suave sem suspeita. A magana, como se
verá no próximo capítulo, estava a sugar muito delicadamente. Sem hostilizar o
hospedeiro, está bem de ver.
Até que ontem, arrogância de bicha gorda, ferroou
mais fundo e o sinal de alarme alarmou. Observação urgente, o que é, o que não
é, e era um feijão pequeno. "Péra" aí, fejanito não tem adesivo,
velcro também não, nem garras...
Primeira puxadela, nada. Segunda e nada, tudo na
mesma, o coisito pendurado continuava.
Oh pá, qu'é que passa!? Reforçado a aperto
digital, bem apertado, e lá veio a bicha. Gorda! Pudera, vários dias a
empanturrar-se de A+...
Convenientemente embrulhada, assim foi esmagada e
a cratera desinfetada.
Porém, porém, bons conselhos ouvidos, guia de
marcha para o Centro de Saúde.
– Isto é só para ver se não ficaram
pedacinhos de pernas e dentes.
Enfermeira:
– Ná, a médica tem de o ver. Não ficou
nada, mas precisa de profilaxia.
Pronto, elas é que sabem. E em menos de meia hora,
sem marcação prévia, observações de enfermagem e clínica do inchaço e receita a
pingar nas mensagens: Doxiciclina.
Contraparafraseando a campanha atual pelo SNS, sim
este é um excelente exemplo do nosso Serviço Nacional de Saúde.
E fez-se-me luz: será de cigarra!? Era.
Bastou estar atento à cegarrega e procurar nos troncos com mais carcaças amarelas.
Estou estafado da torrente, do rio selvagem de barragem desabada, do imparável jacto de tanta palavra do ministro da economia.
Qual melhor da turma, António Costa Silva, debita números, enumera sucessos da economia e garante milhões para isto é mais para aquilo. Sem travão nem parança, simplesmente cansa!
Os números estarão certos, o raciocínio também, mas o jorro enjoa, desatenta. Que falta lhe faz...
Tanta falta lhe faz um amigo. Amigo que seja amigo.
Pois esse bom amigo lhe dirá que comunicar é fazer-se ouvir, ser compreendido.
Um amigo lhe
sussurrará que verborreia está mais próximo de diarreia do que de aplauso.
Ser simpático, cortês, informado e fluente não é suficiente.
Oh Costa, Costa PM,
mande lá um assessor de comunicação à Rua da Horta Seca dizer ao outro Costa, o
Silva, que ou fala pausadamente, em fatias inteligíveis, ou seca a vontade de o
ouvir. Ninguém atura tal seca.
A abarrotar de línguas gringas e outras intragáveis; gente simpática e besuntos beiçudos.
A abarrotar de tuctucs, trotinetes, mochilas e sorvetes.
A abarrotar de ténis, chinelos e calças rotas, nutridas pernas e farta celulite.
A abarrotar de tatuagens, a pele reinante e alforria mamária em arejadas fatiotas.
E as exceções fundamentalistas muçulmanas, enfarpeladas como maranhos de Proença-a-Nova.
É uma Lisboa a abarrotar de vitalidade, destino de meio mundo, livre de guerras e conferências, tranquilas férias sem gravatas nem salamaleques postiços.
Lisboa a abarrotar de liberdade.
+++
Contito
Costa da Caparica, 21 de Março de 2009
Estou a aproveitar o feriado para lhe dizer o que
devia ter dito ontem. Há coisas de que não gosto de falar, como já sabe. Ontem
quando estivemos ao telefone lembrei-me disto, mas não me saiu… mãe é mãe, e a
Mãe percebe. Felizmente! Já sabe que desde miúda só lhe dou notícias por
escrito, não sei porquê, mas, que hei-de fazer!? Gosto mais de lhe escrever a
dar notícias, assim saboreio melhor o que lhe digo, as boas notícias.
Lembra-se quando lhe comuniquei que ia assentar, que
eu e o John íamos juntar os trapinhos, isto ainda em Los Angeles? E lembra-se
quando lhe escrevi a carta manchada de lágrimas, uma carta especial, a minha
primeira carta de casada? Hoje é a mesma coisa, só que esta é a minha primeira
carta de mãe babada.
Pois quero dar-lhe notícias! E também quero pedir-lhe um
favorzinho. Mas só depois das notícias. Cá vão, à americana, as duas notícias,
a boa e a má.
A boa, estou grávida, Mãe, e estou tão contente! Está
tudo bem, o bebé e eu, por aí nada a registar, mas o John parece maluco. Está
encantado, às vezes nem sei, olho para ele e sinto-o ainda mais feliz do que eu,
até gagueja. E o português a fraquejar, ele que já falava tão bem. Deve ser do
nervoso.
E eu, que podia ter alterado o meu comportamento, ficar
impertinente ou piegas, tenho estado óptima, até os enjoos suporto bem. Nem
tenho tido desejos, com uma excepção, valha a verdade! Bom, não vale andar com
rodeios com a Mãe. O John, assim que me viu grávida, abraçava-me a toda a hora,
sempre colado a mim, beijocaria até mais não, só que não passava daí…
Tive de lhe dizer que gravidez não é doença e ele
nada! Então insinuei que há coisas que continuam a fazer falta, embora com mais
cuidado e ele continuou a fazer-se desentendido. Quando esgotei os argumentos e
a paciência, carreguei com ele para o ginecologista numa consulta de rotina,
depois, claro, de ter telefonado ao médico, pedindo que lhe lesse a cartilha.
Resultou, Mãe, resultou! Muito a medo, lá se decidiu,
com mil cuidados e acho que até fica surpreendido de eu não entrar em trabalho
de parto a partir de certa altura. Tenho de insistir com ele, lembrar-lhe o que
o médico disse, que não há perigo, que com cuidado tudo corre bem. Lá acede aos
meus pedidos, coitado, embora não pareça muito convencido quando lhe digo, a
sorrir, que há contrações e contrações…
Bom, agora a má notícia. Mãe, depois de virmos dos States, o meu querido John já nem
parecia um gringo da costa leste, tinha o sotaque, isso compreende-se, mas
falava um português muito aceitável. Os nossos colegas da Nova não paravam de o
elogiar e agora, de repente, parece que teve uma recaída. Até acredito que a gravidez tenha tido alguma influência e que a
expectativa de ter um filho lhe baralhe os neurónios! Tanto erro de
português, tanto disparate!
Mãe, veja só a amostra: o John diz "comprastes" e "fostes"
a torto e direito. E "conssíígamos" ou
"bêêbamos" são outras das suas
barbaridades. Ponho-lhe o Conjugar
dos verbos do Priberam debaixo do
nariz e ele continua na asneirada. Que desespero!
A Mãe é que o podia ajudar, agora que moramos mais perto. Vinha passar uns fins-de-semana connosco e nem que o pusesse a cantar as palavras correctas em tom de barítono...
A sua experiência de Professora certamente que lhe dobraria a língua. Em pouco tempo, o meu querido John havia de perceber que, na língua portuguesa, não há quarta pessoa do singular! E que viste e percebeste são as formas correctas da segunda pessoa do singular, a especializada no tu. Já agora, também o podia pôr a cantar tenhamos, vejamos ou compremos, imitando a voz linda da Ana Bacalhau, dos Deolinda, até ele os dizer com o mesmo delicado cuidado com que faz certas coisas…
Com o amor
da sua filha que precisa muito de si,
Francisca
A presidente da comissão europeia, Ursula Leyen, foi à Turquia enxovalhar e União europeia.
Deixou-se enxovalhar pelo ditador Erdogan, que não lhe deu cadeira. Mas isso foi coisa lateral, produto televisivo.
A vergonha importante, o descrédito estratégico, a fragilidade europeia foram demonstrados pelo beija-mão ao ditador. A Turquia, desde os passados anos 70, ocupa militarmente a parte Norte de um Estado europeu e a Úrsula agachou-se, vexou-se vexando os europeus que representa, especialmente os de Chipre.
Conhecesse ela a história da Europa e nem teria posto os pés no avião.
Mereceu o tratamento indecoroso que o arrogante turco lhe deu. Os cipriotas estarão a rir-se à gargalhada.
_ _ _ _
Ontem, grupo de rapazes e rapariga de volta de carro de capô aberto.
Debatia não sei o quê, mas sei que se despediram com um deles a ir "Meter gota".Uma candidata besunta os beiços como burguesa; aliás, todas as suas fatiotas e declaração exibem este pendor social democrata, apesar do seu partido se dizer na "busca de alternativas ao capitalismo".
Outro candidato atiça-lhe a matilha oportunista reacionária em função do dito besunto.
Um apoiante da primeira, papagaio abstruso, besunta as próprias beiçolas.
Outra candidata, habitualmente besuntada como caída num pote de azeite, joga cartada oportunista.
São candidatos a PR ou artistas de Circo!?
Minha rica avó, Portugal merece mais, quem é que vota nestes artistas...
Ano 1965 ou 66.
CNA – Colégio Nun’Álvares, Tomar.
Numa das noites de cinema a que não fui, não me lembro porquê, resolvi pregar uma partida ao primeiro que voltasse ao quarto.
Armei uma engenhoca com uma caixinha de plástico, um pedaço de fio e um pequeno prego.
Quando já não havia movimento no corredor do primeiro ramo, uns no cinema e outros a dormir, montei o apetrecho.
Numa ranhura da parte superior da ombreira da porta encaixei uma lingueta da caixinha, que ficou na horizontal. Do outro lado desta fiz um furo por onde passei o fio, atando este ao prego, que por sua vez foi cravado no topo da porta.
Verifiquei que ao abrir a porta a caixinha caía e enchi-a com água.
Deitei-me a antecipar a algazarra que seria quando o primeiro colega a regressar do cinema abrisse a porta e ficasse salpicado com a minha rica obra! E adormeci.
Mas acordei com os berros de um imprevisto Dr. Faria:
– Fora, fora daqui, já lá para baixo!!!
– Fora, fora daqui, já
lá para baixo!!!
E ele que não era de gritar!
Tinha ido ver, como os prefeitos faziam frequentemente, se já todos estávamos deitados e levou com a água da minha engenhoca. Não ficou encharcado, longe disso, a caixita era pequena, ficou salpicado, mas enxovalhado. Ele que andava sempre bem ataviado, tinha sido molhado por um atrevido!
Azar, lá tive de ir para a porta do Dr. Raúl Lopes [diretor].
Tinha corrido mal (o planeamento tem destas!), não me tinha passado pela cabeça que um prefeito abrisse a porta antes de um colega!
Aí fiquei, talvez uma hora, a remoer no castigo que ele me iria dar. Quinze dias sem sair? Um mês? Só quem lá andou é que percebe a proibição de estar tanto tempo sem ir à corredoura, ao mouchão!
Chega o Dr. Raúl Lopes, aplica penas a dois ou três ‘delinquentes” e manda-me entrar:
– Então o que
aconteceu?
Contei-lhe a história.
– Ah, ah, ah [gargalhou] e ele ficou todo molhado!? Vai-te lá embora.
Tinha-me saído a sorte grande! Estava de bom humor.
Adicionar legenda |
-- Tá boum? Se quiser mais um becadinho diga.
-- Ao contrário, é demais! Mas tá bom.
-- Não é nada demais ! Fique aí toda a tarde...
Talvez não tenham meia dúzia de linhas a descrever a estratégia comercial, mas ela é evidente: nem sei quantas pessoas me vieram perguntar se estava bem ou se queria um pouco mais!
Simpáticos comerciais, mas simpáticos.
Taberna do Cesário, em Porto Peles - Beja
O Marcelo foi vacinado. Contra a gripe e contra o recato de um tratamento privado. Como se fosse acontecimento de grande relevo nacional chamou as televisões.
Cadeira estofada, confortável, presidencial.
Peito feito, braço oferecido, imaculada camisa branca.
Também eu fui vacinado! De
pé, que é fim de turno, a enfermeira nem me deu tempo para tirar a camisa.
Como é estreita no braço e não subiu o suficiente, quis despi-la, mas ela logo ma ia desabotoar, o que consegui antecipar:
– Dois botões chega! Suba o ombro.
E meio desenfarpelado, ombro ao alto, rapidamente me espetou a agulha e espremeu a seringa.
– Bem-u-ron se tiver febre; gelo se inchar.
Não sou PR, estive numa linha de produção mecânica. Oleada, mas mecânica, sem mesuras nem simpatia plástica. A Rádio Tutifruti longe da vista e televisões viste-las… Nem a CMTV me azucrinou sobre mazelas do SNS.
Fica certificado, sou Cidadão Comum: vacinado com camisa vestida, sem cadeira nem televisões.
Ai se houvesse vacina contra o populismo...
A TSF, no noticiário das 18 horas de 19 de Outubro, anuncia-nos 9 ministros da saúde na Bélgica.
Um país de 11 milhões de habitantes e do tamanho do Alentejo com 9 – nove – 9 ministros da saúde!!!
Má tradução das designações dos cargos regionais e provinciais ou um exemplo para Portugal não cair no caça-níqueis da regionalização!?
A ser verdade, evitemos o contágio, que muitos dos nossos políticos estão mortinhos por subir na vida.
A regionalização defendida como varinha mágica para os nossos problemas de desenvolvimento, burocracia e corrupção não passa de rampa de lançamento de políticos de olho em mais altos voos.
O presidente da câmara, catapultado para um tacho na ambicionada Junta Regional, abre vaga e o presidente da junta põe-se à espreita. Entretanto, recruta assessores, secretárias e adjuntos, pagam-se lealdades e acertam-se favores, um regabofe de mobilidade social, gabinetes com novos sofás e novos carros. E o etc. não pára…
Com a regionalização apenas se ampliaria a cadeia decisória, tal a nossa tradição do “À consideração superior”, isto é, as decisões em maior ou menor grau desaguam no Terreiro do Paço.
A burocracia, esse apego doentio ao controlo milimétrico das voltinhas dos papéis, mesmo que digitais, seria entupida por mais um nível de empastelamento.
Regionalização? Não, obrigado!
Olhem para a teia belga…
Zé dos Cornos, tasca Beco dos Surradores 5, Lisboa Entrecosto com arroz de feijão às terças e sábados Clube Naval, Setúbal Rodízio de peixe Adega Lusitânia, Angra do Heroísmo