sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Toicinho - Quadras




Foi conduto de ceifeiras,
abegões e tanoeiros;
engordou alcoviteiras,
empanzinou adegueiros.


Fartou maltês e madraço,
e até um ciganito
dividia o seu pedaço
com escanzelado canito.


O sacristão, desvaído,
pelava-se por ele salgado,
por um niquinho atraído,
em vinho de missa afogado.


Dos mais pobres foi sustento
em receitas gordurentas.
Ateou padecimento,
fezes das mais agoirentas.


Com ilusão de fartança
foi o falso condenado,
maldito réu sem fiança
por dotôres atazanado.


Com a tróica regressado,
veio com juras de frugal,
volta aos caldos acossado,
engana fome a Portugal.


Torna agora, sorrateiro,
pé ante pé, de mansinho;
fingindo ser borralheiro
é peçonhento toicinho!


Fezes (Alentejo): 
Situações difíceis,
dificuldades, problemas
 .




© Manuel A. Madeira
20 de Junho de 2011
[V2 – 26.Fev.2015]

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Queimar as debulhadoras; queimá-las todas!




Este brado, um grito de revolta, ouvi a miúdos de 9, 10 anos, há um bom par de décadas, na minha escola primária.

E não era um feroz ódio infantil àquelas máquinas! Tratava-se apenas do eco do desespero doméstico pela falta de trabalho no Alentejo.

Associado, obviamente, à ilusão de que a destruição do novo equipamento agrícola que começava a aparecer nos campos alentejanos reporia o pleno emprego.

Mas se a História não registou alfaias incendiadas, tem, na época, um pesado lastro de fome, carências básicas e um profundo sentimento de injustiça social.

O regime salazarista, então, lançou mão ao trabalho de reparação de estradas de modo a mitigar o brutal desemprego existente, que abrangia uma elevada percentagem de trabalhadores rurais.

Paralelamente, o arranque da industrialização na margem sul do Tejo trouxe muita gente do Alentejo para o Seixal, Cova da Piedade e Baixa da Banheira, atenuando a desesperança de muitas vidas sem futuro.

Tudo isto a propósito da Grécia, da desmesurada inépcia dos seus anteriores governos, da arrogância alemã e da pequenez dos Passos & Hollande que "governam" a União Europeia.

Tivessem eles "unhas" e punham a Merkl & Schäuble em sentido, se necessário de dedo em riste ou apontando a porta dos fundos.

E fossem eles Estadistas e o desalento grego seria alvo da sua atenção, para que nenhuma máquina alemã seja incendiada e nem um único turista alemão seja molestado na Grécia.


A História é muito instrutiva, mas apenas para quem vê mais de um palmo à frente do nariz.

!!!

domingo, 1 de fevereiro de 2015

A mais pedregosa das terras aradas


Onde as oliveiras medram a medo...

Isto entre o Covão do Fato e Monsanto, concelho de Alcanena.







Fica a agreste rusticidade e a bela serra lá ao fundo.


Tudo de um e do outro lado do PR6 ACN.
Largue, pois, o traidor do sofá, meta água e uma bucha num saco e ala, de botas calçadas a visitar estas preciosidades.