terça-feira, 31 de outubro de 2023

A carraça e o profissionalismo no SNS

 

A carraça andou vários dias a passear pelo meu corpo.

Chegada da Serra de Grândola, não terá encontrado ninho acolhedor e qual inspetor, inspecionou. Mas não encontrou encanto em nenhum recanto, prega ou retiro húmido.

Mas passeou, passeou, até que fundeou. Ou seja, cravou fundo os dispositivos de fixação e sucção. Andou nisto uma semana.

Entretanto, há dois, três dias, apareceu comichão no tronco, lateral, um pouco acima da anca.

Coçadela suave sem suspeita. A magana, como se verá no próximo capítulo, estava a 
sugar muito delicadamente.  Sem hostilizar o hospedeiro, está bem de ver.


Até que ontem, arrogância de bicha gorda, ferroou mais fundo e o sinal de alarme alarmou. Observação urgente, o que é, o que não é, e era um feijão pequeno. "Péra" aí, fejanito não tem adesivo, velcro também não, nem garras...

Primeira puxadela, nada. Segunda e nada, tudo na mesma, o coisito pendurado continuava.

Oh pá, qu'é que passa!?  Reforçado a aperto digital, bem apertado, e lá veio a bicha. Gorda! Pudera, vários dias a empanturrar-se de A+...

Convenientemente embrulhada, assim foi esmagada e a cratera desinfetada.

Porém, porém, bons conselhos ouvidos, guia de marcha para o Centro de Saúde.

Isto é só para ver se não ficaram pedacinhos de pernas e dentes.

Enfermeira:
Ná, a médica tem de o ver. Não ficou nada, mas precisa de profilaxia.

Pronto, elas é que sabem. E em menos de meia hora, sem marcação prévia, observações de enfermagem e clínica do inchaço e receita a pingar nas mensagens: Doxiciclina.



Contraparafraseando a campanha atual pelo SNS, sim este é um excelente exemplo do nosso Serviço Nacional de Saúde.


quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Rolha de cortiça de vitivinicultor exemplar



Portugal produz muito vinho e muita cortiça, mas também "produz" adegueiros unhas-de-fome.

Muito do vinho engarrafado que enche as prateleiras dos supermercados tem rolhas de aglomerado de cortiça, vulgo corticite. Certamente que o preço destas é menor do que o das verdadeiras rolhas, as autênticas e genuínas representantes do país, as de cortiça.

A corticite tapa, mas fraqueja. Uma garrafa com este tipo de emplastro ao fim  de uns meses nas nossas casas* começa a esboroar o granulado. E se este é inócuo, sei lá o efeito do aglomerante ao misturar-se com o tintol.

Isto do ponto de vista sanitário, organolético e até visual ao vermos partículas de cortiça moída a boiar no copo.

Porém, na dimensão exportadora, a rolha de cortiça enobrece os vinhos. Mesmo os vinhos que o Isaltino não bebe [ele tem "recursos" a que o Cidadão comum é alheio...] Um vinho para o bolso do português médio, um vinho aveludado com fim de boca prolongado, que não vá além dos 5 euros, quando exportado dá um salto no preço que o John, a Marie e o Klaus, a Tilda, a Kyra e o Matteo pagam com gosto. Mas não lhes cai no goto a rolheca a desfazer-se. E logo desatam a comparar o  vinho e a rolha com as de chapa chilenas e australianas.

Um vinho retrata o país e se Portugal não que ser retratado como produtor de vinhaça barata não deve ombrear com a Austrália ou o Chile, que não têm sobreiros!

O mesmo vinho com rolha de lata, de plástico ou corticite fica, aos olhos do comprador, a léguas do que vem honrado com rolha de cortiça. Porosa para que o néctar respire e elegante para que os olhos brilhem. E o vinho com rolha de cortiça brilha. Fazendo brilhar Portugal.

Todo este arrazoado para dar os Parabéns, muitos Parabéns, à Adega das Mouras de Arraiolos
**, que valoriza um vinho de 3,19€ com rolha de cortiça. Um vinho bom.

Que esta opção de enrolhamento fermente em boas mentes. Que os unhas-de-fome façam bem as contas e não vejam apenas os escassos cêntimos de acréscimo nos custos de produção por garrafa expedida. Que olhem para a rolha de cortiça como benefício estratégico, multiplicador de vendas.



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NB O Formigarras não tem ações nem comissões da Herdade das Mouras da Arraiolos, apenas apreço pelos seus vinhos e rolhas de cortiça.

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 Caro leitor, estimada leitora,  guarde as garrafas de vinho deitadas, caso contrário pode ter surpresas desagradáveis.

** www.mouras.pt