sábado, 24 de outubro de 2020

A vacina e o Marcelo, eu e o populismo


O Marcelo foi vacinado. Contra a gripe e contra o recato de um tratamento privado. Como se fosse acontecimento de grande relevo nacional chamou as televisões.

Cadeira estofada, confortável, presidencial.

Peito feito, braço oferecido, imaculada camisa branca.

Também eu fui vacinado! De pé, que é fim de turno, a enfermeira nem me deu tempo para tirar a camisa.

Como é estreita no braço e não subiu o suficiente, quis despi-la, mas ela logo ma ia desabotoar, o que consegui antecipar:

– Dois botões chega! Suba o ombro.

E meio desenfarpelado, ombro ao alto, rapidamente me espetou a agulha e espremeu a seringa.

– Bem-u-ron se tiver febre; gelo se inchar.

Não sou PR, estive numa linha de produção mecânica. Oleada, mas mecânica, sem mesuras nem simpatia plástica. A Rádio Tutifruti longe da vista e televisões viste-las… Nem a CMTV me azucrinou sobre mazelas do SNS.

Fica certificado, sou Cidadão Comum: vacinado com camisa vestida, sem cadeira nem televisões.

Ai se houvesse vacina contra o populismo...

 


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