quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Empanturrados de crise

Mandaram-me boas festas e mandaram uma prenda que não me chegou por causa da crise. Agredeci com emoção e surpresa. Emoção porque é bom que se lembrem de nós, especialmente quando nos mandam qualquer coisita como anexo demonstrativo da lembrança. A que me disseram que mandavam deve ter sido filtrada por algum firewall anti-cristão ou apanhada por hacker do BPP! A surpresa é a referência à crise. Qual crise?! Ontem almocei num restaurante a abarrotar de crises: a crise de uma bicha imensa de gente esfomeada que às 2 da tarde ainda não conseguira lugar. A crise das cozinheiras, que tinham as varizes em polvorosa por trabalharem o triplo dos dias sem crise. E os empregados de mesa estavam atarantados com crises tendinosas, pois os braços não aguentavam mais o carrego de tanta comida, tanta cerveja, tanto vinho, tanta sobremesa de gula. Ah, já me esquecia. E a crise daqueles pobres estômagos empanturrados com doses que noutras latitudes alimentariam famílias e que na nossa gera de celulite na senhoras e panças nos cavalheiros. Coisa que será oportunamente tratada... Mais tarde vi leitões assados a passar à minha frente, embalados em compridas caixas de cartão canelado, que adivinho se destinem a preencher lacunas em crise. Também carradas de fritos fruto da crise, uma vez não são vezes, e as pastilhitas em jejum dão conta da crise nas análies. Claro que uma crise como a que vivemos se repercute mais nalgumas profissões que noutras. Estou preocupadíssimo com as crises que seguramente desaguarão nos próximos dias nos hospitais: a crise dos comas alcoólicos, a crise das vesículas em sobreaquecimento e a crise de certos médicos, coitadinhos, que não vão poder dormir 12 das 24 horas do seu turno de serviço. Também me consta que, nalguns sectores, a crise está a empanturrar as tesourarias. Com tanta nota a contar, com tanta moeda a conferir e o controlo de tantos e tantos pagamentos electrónicos, a Noite de Natal dos tesoureiros e contabilistas foi adiada para a meia noite e meia. Com uma compensação legítima: vão directamente do trabalho para a missa e são eles a cantar de galo!!! .

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