domingo, 16 de dezembro de 2012

Caga dinheiro


O Alentejo é pródigo em catar particularidades individuais e sintetizá-las em alcunhas.

Pécurto e Zé do pico, Barriguinha e Cabeçana ou Chorão e Poucochinho são hoje apelidos certificados pelas conservatórias.
 
Ombreiam com Pimpão e Lambuzana, e não ficam atrás de Janota e Sabido, Arcadinho e Tirapicos.

Esta é uma pequena amostra de alcunhas que, por obra e graça de sacristães e escrivães rigorosos ou vingativos, rudes ou apressados, foram institucionalizadas em nomes familiares com direito a bom nome e certidão.

Algumas destas palavras são de uso comum na linguagem do dia-a-dia e não teriam honras de cartório se beliscassem a moral e os bons costumes. Ou seja, são simplesmente descritivas, jamais rondando a grosseria ou o impropério.
 
É por isso que nem todas as alcunhas subiram na vida, nunca sequer se aproximando dos balcões do registo civil.

E compreende-se, pois a sociedade aceita que a má-língua dê lugar a reluzentes linhagens e até tolera que a picardia crie sobrenomes exóticos.

Mas há um limite, os portugueses não pisam o risco, não dão vestes de honorabilidade a obscenidades, isso seria um ai meu deus.
 
Por isso, nenhum alentejano aceitaria que Caga dinheiro, alcunha de um há muito desaparecido vidigueirense, obtivesse a bênção patronímica legal.

 

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