quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Um crime americano com 40 anos



No mesmo dia em que outra tragédia, em 2001, enlutou os EUA, importa lembrar o crime chileno.

Consumado em 11 de Setembro de 1973, a mando de Kissinger, então Secretário de Estado americano, suprimiu a democracia no Chile, pondo o país sob a alçada de uma cruel tirania militar.

Traduziu-se num sanguinário golpe de Estado que substituiu Salvador Allende, Presidente eleito, pelo testa de ferro dos americanos chamado Pinochet.

Talvez a estratégia Allende tenha sido inconsistente ao ignorar os interesses dos EUA e pagou por isso. A nacionalização de setores-chave da economia beliscou interesses americanos e acionou a reativa escalada belicosa.

E a verdade é que a lei internacional – a lei do mais forte – foi mostrando o seu desencanto com as medidas do Poder Popular através de recados e de atos terroristas que antecederam o golpe.

Um dos mais conhecidos foi o do bloqueio dos transportes, com a infestação das estradas com pregos que estraçalharam milhares de pneus. Sendo o Chile um país com 4000 quilómetros de comprimento, o seu sistema circulatório foi comprometido e a economia seriamente abalada.

Não cedendo a esta chantagem e contando com o tradicional respeito das forças armadas chilenas pelo poder civil, Allende confiou na lealdade do Pinochet. Este, porém, traindo as suas falsas juras, já manobrava na sombra.

E em 11 de Setembro toda a tropa e a polícia militar, equivalente à nossa GNR, agiram coordenadamente. Os poucos militares que se insurgiram contra os golpistas foram sumariamente assassinados.

O saldo da traição foi o assassínio de vinte mil pessoas, muitos a sangue frio, o esmagamento de quaisquer liberdades, trinta mil prisões arbitrárias e a entrega de indústrias nacionalizadas aos anteriores proprietários americanos.

E a bandeira dos Chicago Boys, arvorada em modelo da economia chilena, ungiu o liberalismo sem controlo instalado pela pinochetada.
 

 

40 anos depois, que lições tirar deste crime impune?

A primeira, foi a do inglório radicalismo que tanto sofrimento e morte causou. E os 17 anos de enterros de pessoas e liberdades provocados pela ditadura, pondo o Chile de luto e em lágrimas.

Do ponto de vista estratégico, destaca-se a deficiente avaliação das forças e fraquezas e a ausência de informação militar. Valeu a pena nacionalizar interesses dos EUA naquilo que a Segurança Nacional americana considerava o seu próprio quintal? Não teria sido possível alguma moderação na nacionalização de empresas estrangeiras?

Quanto à informação, tivessem os órgãos de soberania fontes fiáveis no seio das forças armadas, ao mais alto nível, e teria podido contrariar a conspiração militar.

A terceira lição é a de perceber se os EUA se dão conta do retorno do seu papel de capataz do mundo. O seu crime de 1973 no Chile foi cometido a coberto da guerra fria, mas entretanto, já depois desta, muitas outras intervenções têm feito, um pouco por todo o mundo.

O seu quintal é agora o planeta, com as exceções dos condomínios russo e chinês e pouco mais. Os americanos tanto prendem narcotraficantes na Guiné-Bissau como têm bases militares em antigas repúblicas soviéticas, no Egito ou em Portugal.

Os EUA, desde há muito uma potência global pelas armas, são-no também pela música, pelos hambúrgueres, pelas mil tecnologias de ponta que dominam e com as quais dominam o mundo. A esse domínio chama-se império americano e os impérios não lamentam a sua história. Também nós temos isso a aprender.

 

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