quinta-feira, 11 de abril de 2013

Pontos de rotura – ética e anímica



Relva caiu esgotado. Psicologicamente exausto, ele o confessou. Faltou-lhe a estaleca para resistir aos dedos que, com razão e por todo o país, lhe apontaram o descaramento, a indignidade da traficância "académica" e o elegeram como símbolo nacional da desonestidade.
Nada o define melhor que o simbolismo anedótico que corporizou. As anedotas, os ditados populares e os ditos jocosos foram reformulados, com o seu nome como fermento de humor.
E o engenho irónico português, a criatividade dos desenhadores e a graça dos humoristas tiveram um pico de euforia. Relvas nas anedotas, Relvas nas larachas de amigos e Relvas nos cartoons proporcionaram aos portugueses fartas gargalhadas, sorrisos felizes e o júbilo de quem encontrou um escape lúdico para a aldrabice mascarada de política.

A ambicionada imagem de estadista foi massacrada vezes sem conta. E substituída por uma auréola de fingido aldrabão. Aldrabão confesso, relembremo-nos a bem da sanidade mental coletiva.
A última gota veio da juventude. Caiu aos pés dos estudantes de Gaia que o martirizaram com Grândola, Vila Morena, e os do ISCTE que o acossaram ao ponto de fugir pela porta dos fundos, arrastado pelos guarda-costas. Portugal reteve a sua cara de pânico. Crato apenas picou o balão, que se esvaziava.
Confesso aldrabão já era público e débil se confessou em discurso oficial. Saiu com um carimbo autocolante. Ele próprio identificou o seu ponto de rotura anímica!

Tudo isto nos conduz à antiga sabedoria:
Não queiras remendão ir além do chinelo!
Ou seja, Miguel Relvas perdeu o pé por ter ido além do seu chineleco. Malabarista, manobrou as distritais do PSD, empurrou Passos para o poleiro e aninhou-se sob a sua asa grata. Grata e protetora – Relvas, o não assunto! – mas tinha pés de barro.
Sem envergadura política nem dignidade pessoal, desboroou-se perante um povo que não lhe perdoou ter adotado padrões de república de bananas: ponto de rotura ético.
Mas deixou um rasto a habilidades e manobras que federá até o bom senso ser restaurado.
O exemplo-cereja da sua indigente passagem pela Gomes Teixeira é a telenovela angolana recentemente lançada pela RTP. Encenação primária e mamas e pernas como engodo em vez de representação é o que fica do servicinho ao cleptocrático regime angolano. Angola merece ser bem representada e Portugal não precisa que o dia-a-dia dos angolanos nos seja infantilmente caricaturado.

Num balanço sumário da mancha Relvas, é óbvio que a sociedade se impôs à classe política. Apesar da placidez comodista de muitos, apesar da manipulação e do medo ainda serem pratos fortes, Portugal é uma democracia e a liberdade é bem usada pelos portugueses.
A lição a tirar é que quando as sociedades se norteiam por sólidos padrões éticos não toleram roturas neste domínio, sejam quais forem os pontos de rotura anímica dos seus políticos.

Olha-se para a Europa civilizada e vêm-se frequentes tombos de quem pisa o risco. Em Portugal foi o que se viu, Relvas longamente impune, o PM querendo abafar o escândalo e o PR, temos PR!?

Moral da história
Só um ponto ético elevado evita roturas na dignidade de Portugal. Está na nossa mão, não há Merkl que nos valha.
!!!!!
 

1 comentário:

Ana Prazeres disse...

E o comentário entrou!!!