quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Capitão Donatário em Tons Crus e Apimentados

Recomendação de leitura
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Livro: Nova Lusitânia
Autor: Aydano Roriz

Este livro documenta tramas, vidas e locais cuja leitura é um pitoresco reencontro com a colonização do Brasil. É uma teia de personagens, acontecimentos e sentimentos tão bem urdida num fundo histórico que nos faz sentir a época e os episódios como se os vivêssemos. Li-o sem respirar, como a minha avó comia os mil-folhas, saboreando gulosamente, uma a uma, até à última migalha. É um vibrante retrato do século 16, acompanhando Duarte Coelho, o herói, de menino, no Porto, a primeiro capitão donatário da Nova Lusitânia. Naquela cidade é introduzido nas intimidades da corte, onde uma amante de D. Manuel I o iniciou nos prazeres da carne e o vicia num certo prato. Depois, no Funchal, os passos do então Beleguim são narrados em cores vivas e sensualidade latente... que impele o leitor a espreitar o empernanço de uma magricela ao jovem Duarte! E plebeísmos arcaicos como zé-das-couve ou esticou as canelas transportam-nos a esse tempo e à crueza das falas, deixando-nos rendidos às dos navegadores: “Judeus – cagam, peidam, mijam... São gentes iguais à gente”. Já na capitania, vemos o agora Dom Duarte entre engenhos de açúcar, cavalos e degredados em situações apimentadas. Roriz mostra-o ainda hábil a lidar com padres, índios e mulherio, chegando a pintá-lo de ousado parteiro... No final, o bastardo de mãe de baixo nascimento, é um grande senhor brasilenho com ambições de fidalguia. Eis, meu amigo, um romance sedutor, com paisagens plausíveis, bravos feitos, gordas cobiças e em que também testemunhamos amores em modos que já não há. Tudo num bom ritmo, com figuras de estilo qb e laivos históricos que nos cativam página a página, que todas li sofregamente. 16.Janeiro.2009

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