domingo, 30 de maio de 2010

Epitáfio de Manuel Maria



Manuel Maria du Bocage



Lá quando em mim perder a humanidade
Mais um daqueles que não fazem falta,
Verbi gratia – o teólogo, o peralta,
Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade:


Não quero funeral comunidade,
Que engrole sub venites em voz alta;
Pingados gatarrões, gente da malta,
Eu também vos dispenso a caridade:


Mas quando ferrugenta enxada idosa
Sepulcro me cavar em ermo outeiro,
Lavre-me este epitáfio mão piedosa:


“Aqui dorme Bocage, o putanheiro:
passou vida folgada, e milagrosa;
comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro.”

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