segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Outro ditador acalmará o Egito

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Na minha 3ª classe havia um livro com os reis Filipe, cujos olhos todos nós furávamos com arrebatamento.

Não sei o que se diz nesta imagem das manifestações egípcias, mas presumo que terá um significado algo semelhante à desfiguração dos ocupantes espanhóis por miúdos da primária. Ou seja, ódio, raiva, revolta. Com uma diferença: os egípcios vivem a opressão do regime de Mubarak, enquanto eu e os meus coleguinhas pouco sabíamos da dinastia filipina, agindo mais por influência familiar.

(Diário de Notícias)

Se as razões do tumulto parecem genuínas, fermentadas por um desemprego assustador, já o seu desenlace permanece uma incógnita. Incógnita chamada exército.

Quando algum ditador se mantém muitos anos no poder, é certo que tem as forças armadas do seu lado. E é igualmente seguro que só o consegue quem tem a habilidade de mexer em fogo sem se queimar, embora alguma coisa pagando por isso. Veja-se o exemplo de Angola, por nós mais conhecido, em que Eduardo dos Santos tem os generais e os oficiais no bolso, enchendo-lhes os bolsos de prebendas, negócios e cargos sonantes.

Se os chefes militares egípcios optarem por apoiar o atual presidente, é provável um banho de sangue, pois a determinação dos manifestantes não será facilmente vergada com promessas ou maquilhagens governamentais.

O outro se tem a ver com o enquadramento do homem da rua. A aposta euroamericana em Baradei não é uma cartada ganha, pois é um homem da civilização ocidental, nos antípodas do fundamentalismo dos Irmãos Muçulmanos. E não se lhe conhecem apoios internos de peso.

Enquanto a Tunísia, indutora de levantamento egípcio, sai dos ecrãs por se encaminhar para uma democracia ou algo próximo disso, o Egito pode estar à beira de nova ditadura. Com outro ditador e com os dólares e o selo da Pax Americana. Os tunisinos têm outra escolaridade, outro PIB e até a religião tem folgas que aquela irmandade egípcia não quer para o seu país. O seu símbolo é eloquente:


Sendo a mais organizada das correntes que dirigem os manifestantes, com fundas raízes na miséria, teria caminho aberto para se instalar no poder. Isto se os líderes americanos não soubessem o que permitiu o alojamento dos teocratas islâmicos em Teerão. E as suas consequências.

Posto isto, muito provavelmente, os EUA, patrões de boa parte de Médio Oriente, tudo farão, em parceria com os seus protegidos sionistas, para colocar no Cairo um homem, uma corte e uma imagem que neutralize a turbulência atual. Ter uma outra república fundamentalista islâmica à perna não é, certamente, a maior ambição de Obama.

Ora uma delegação de 25 militares egípcios esteve há poucos dias em Washington, em consultas. Bem pode ter regressado com a chave para o novo inquilino do palácio presidencial.

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