segunda-feira, 9 de maio de 2011

Os sacrifícios que Cavaco não partilha

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Cavaco Silva quer "justiça na distribuição dos sacrifícios" http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1847449

Ótimo, pois que dê o exemplo, para não soar a falso. Diga aos concidadãos do que prescinde.

Enquanto esperamos, imagino o seu sacrificado discurso com as recomendações do consultor de imagem em parentisis reto.


Portugueses [pausa breve]

Neste momento difícil para Portugal [arraia miúda], quero partilhar com todos [enfatizar todos] os meus sacrifícios de estadista solidário.

Sabeis bem [esta fórmula cai que nem ginjas a Norte do Mondego] que tudo farei para que tenhamos uma verdadeira partilha de sacrifícios, incluído o supremo magistrado da Nação. [careta "financeira"]

Tanto quanto possível, já se vê [careta "patriótica"], pois sou uma figura de Estado e o Estado tem de ser digno, mais digno que os seus pobres Cidadãos [cara de pau].

A primeira grande medida de poupança presidencial foi a de eu próprio ter prescindido do ordenado de PR. Muito antes [esgar de Estado] da chegada da troica, o que mostra bem o meu amor à pátria. Não me queixo; ainda tenho umas reformas dos poucos anos em que trabalhei.

Também passarei a receber os embaixadores num fato normal [cerrar sobrolho], sem aba de grilo nem risquinhas de novo rico.

E irei almoçar em casa, a da rua do Possolo, que fica mais à mão, pagando do nosso bolso o que comemos e bebemos. Eu e a minha mulher [olhar enlevado], claro, sempre são duas pessoas a menos a pesar no Orçamento de Estado.

E nos jantares oficiais no Palácio da Ajuda, já dei ordens rigorosas para serem servidas feijoada "light" e mão de vaca confitada.

[Pausa longa]

Ciente da imperiosa necessidade de cortar na despesa corrente primária, reduzirei o número de fiéis do PSD ainda aboletados na presidência [ler depressa].

Como medida adicional, farei aos assessores e tradutores, aos peritos e conselheiros e aos consultores mais dótores o que fiz ao Lima: despeço-os por uma porta e voltam logo pela outra. [cara de pau +]

Ponderei igualmente os ganhos económicos que as minhas deslocações ao estrangeiro têm para o nosso país. Tomei, por isso, uma decisão de grande impacto.

Portugueses [bebericar para evitar pigarreio ruidoso]

Os encargos dessas viagens serão, doravante [uma palavra à Camões magnetiza], transferidos para o orçamento do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Assim mandam as regras de transparência dos países que, com estóica determinação, enfrentam a troica.

Finalmente [breve pausa e queixo erguido] quero dizer aos portugueses, olhos nos olhos, algo de que muito me orgulho, a suprema prova do meu desinteressado serviço público, do meu total desapego pelos cargos e dinheiros públicos.

Portugueses
[inspiração profunda]

Comunico-vos, com profundo sentido de Estado e sentido patriotismo, que desisto, por ora, da minha exigência de aviões novos para me transportar.

A Força Aérea garantiu-me que os Falcon só por azar aterram de emergência em Itália e que o céu me há-de proteger quando nele viajar. [pôr ar místico]

Tenho dito. [sair de cena em passo lento, entregando displicentemente a A4 ao oficial às ordens]


O refrão os portugueses conhecem-me, intercalado amiúde, aumenta, ainda mais, o efeito encantatório da retórica oca.

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