sexta-feira, 22 de abril de 2011

Afinal foram cinco

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Vendo bem, foram cinco os buracos, não quatro! Suturados os dois pequenos cortes, o maior de uns quatro centímetros, nos três orifícios bastou spray cicatrizante.

Retomando a história em breves linhas, lembro que acordei no bloco com um suave e firme Senhor Madeeeiiira! Já me tinham posto os óculos e ouvi a advertência ao maqueiro: Não vai para os cuidados intensivos! Não vai! Vai para o recobro! Se lá insistirem, diz que é mesmo para o recobro.

Terei ficado duas a três horas debaixo de olho na UCP, Unidade de Cuidados Pós Operatórios (oh resquícios profissionais!). Fui registando, entretanto,  métodos e procedimentos. E também as tensões enfermagem-enfermagem. Pior que elas, as das auxiliares, em tricas permanentes, mas isto já na hospitelaria.

Acordei, pois, tranquilo e também atento e bem humorado. Tudo a correr bem na frente da Luz.

Observei a meticulosa intervenção de uma enfermeira e, ao sair do recobro, felicitei-a, o que a desvaneceu e suscitou euforia corporativa dos circunstantes. E ao anestesista, com quem conversara no bloco antes do off, disse, factual, que a informação que ali me fora dando e a sua atitude profissional tinham sido tranquilizadoras.

De regresso ao quarto, a pilhéria retomou o seu papel na vida bem vivida. Várias mulheres saíram do elevador para deixar entrar a cama em que ia e ouvi a laracha que, se calhar, cabiam melhor se uma ali se deitasse. Meti o bedelho dizendo que me podia afastar para o lado, sim, …Mas olhe que sou seletivo! A moral mouro-judaico-católica deu de si: Faz muito bem!

Ateu convertido, sim, converti-me refletidamente ao ateísmo, nos instantes mais inquietos andei de pé atrás com a retória católica. O meu medo era que o medo me toldasse a lucidez. Lembrei-me de Guerra Junqueiro, que os ideólogos dessa doutrina agora dizem dos seus e acusam de ter renegado a obra-prima A velhice do padre eterno. São alegações carregadas de intolerante propaganda, pois não duvido que o escritor terá tido, isso sim, uma brutal depressão.

Pela minha parte, cheguei sempre a bom porto. Invoquei energicamente um ser idolatrado em todo o Portugal e apelei igualmente ao seu superior. Ambos em exemplar harmonia hierárquica, tal como na mitologia celestial católica.

Pois nos apertos clamei, convicto, Oh c’um caralho!, o que repeti como ladainha beata. Nos picos mais bicudos dei brados ao todo poderoso Ca ganda caralho!!! Assim mantive a paz da serenidade terrena.

Quem muito novo se deu conta das fantasias e dos embustes daquela ideologia, fica resiliente. Sim, resiliência; está na moda mas é um conceito de regeneração da física, que provou transponibilidade para o meu próprio físico. Ajudou a restaurá-lo.

Os buracos, esses, fizeram a sua via sacra, cicatrizaram e cá estou eu, de novo, pronto para as iscas!

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