domingo, 22 de abril de 2012

Juntei os trapinhos com a sexóloga

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Contito



Custa a assumir, mas andava desanimado. Tenho 50 anos, não sou velho, a careca não conta, foi a genética. A companheira, pessoa educada, esmerada na comunicação, subtilmente, como não quer a coisa, já não é como dantes e nem dores de cabeça tenho! Tou-te a topar, que tu és como a tua mãezinha, nunca vais directa à coisa, sempre da ladecos, boa rapariga, conhecemo-nos na Chamusca, gente séria, com cavalos, mas não descola. Em público nunca, nem nunca zangada, mais insinuada que amuada. E à espera.

Espera pela pancada, que hei-de resolver isto. Se não sou velho e se a falta de cabelo não quer dizer nada, descontado o frio que no Inverno me chamusca os miolos, ainda me vais ver de energia renovada!

Fui à consulta da sexóloga. Tinha de ser. Também já fiz análises e não morri, até já dei sangue e vou ao dentista. Tudo se trata com 50 anos, não vou é ao de família. Terras pequenas, sabe-se como é, vou a Lisboa, não vou pôr a Chamusca a cuscar.

Ouviu. Ouviu. Ouviu. Muito atenta. Tens uns olhos que se me entranham na alma. Pretos pretos, olhos de cobra, nem se vê a menina do olho. Voz suave, uma voz tão suave! Voz de pêlo de gato siamês, como o da Tia Edviges. Deixou-me os tímpanos a espernearem. Deve ser nervoso, é a primeira vez que me vejo nisto, até me distraí, repetiu várias perguntas. Eu estava era a ficar encafuado nos olhos pretos. Enrodilhado pela cobra.

Perguntas bem feitas. Como é que era, como foi que deu por isso, tem dores, como vamos de ureia, PSA e de stress? Cefaleias, sogra e tabaco? Coluna, jogo e snifagem? Ainda me palpou a pulsação. Só aí. Que sensação!

Tiradas as medidas, registou que estou limpo e não, não vejo razão. Animou-me. Psicologia. Aplicou-me a grelha Janshen-Khurtz com aferição Hite-Nord. É uma rica grelha, deu para amena cavaqueira, macia como a pele do tal gato, aquilo já não foi Khurtz e de Hite nem cheiro. Então como é, sou das barragens, vou muito ao Picoito, o Gerês tem belas vistas, já fui à do Castelo de Bode, o rio Homem é uma maravilha, tenho um cliente de Arouca, boa posta, não quer ver as turbinas da de Alqueva, belas turbinas, olhe que se come bem em Brinches, um dia, quem sabe!

Psicossomático, não pense nisso, distraia-se, corte no sal, nas gorduras e no branco. Daqui a um mês, diga-me como foi. Envenenou-me o sossego. Daí a um mês, contado dia-a-dia, hora-a-hora na última semana, lá estava caidinho. Então como foi? Não foi. A da Chamusca, nada. E vá de conversa renovada, Alqueva combinada, Brinches mesmo a calhar, somos compatíveis potenciais, que a escala não cala. Isto disse-me mais tarde, então já enleados.

Ambos teimosos, que a escala não disse tudo; demorámos 3 meses a estabilizar o lado da mesa de cada um, outro tanto em outros lados e 7 meses para consolidar o enleio. Tanta técnica, tanto kamasutra, tanta psicologia e demorámos 7 meses nesta consolidação! 7 meses... Ele há teoria que só lá vai com muita prática…

Mas estou curado, que é o que importa. Com prova provada: aquele amor de loirita desdentada nasceu às três da madrugada.



Lisboa a 31 de Outubro de 2007

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