O
Conselho de Ministros da CPLP, reunido ontem em Lisboa tomou conhecimento,
consternado, do golpe militar na Guiné-Bissau. Condena-o veementemente e exige a
imediata reposição da ordem constitucional, da legalidade democrática e a conclusão
do processo eleitoral.
Exige
ainda a preservação da integridade física e a libertação imediata e
incondicional de todos os titulares de cargos públicos e demais cidadãos sob
custódia dos militares sublevados.
Até aqui é o
habitual, vem nos manuais diplomáticos, incluindo a ameaça de sanções
internacionais e a proibição de viagens, congelamento de ativos e a responsabilização
criminal.
Onde
a posição da CPLP fia mais fino é na constituição de uma força de interposição
para a Guiné-Bissau.
Di-la
de interposição, mas não passa de camuflagem terminológica, pois a sua missão só
terá sucesso com um dispositivo de envergadura dotado de meios bélicos pesados.
A
desejada garantia da ordem constitucional e a proteção das instituições e das
autoridades legítimas são viáveis, pois Bissau é uma cidade pequena e a
ocupação e defesa de alguns edifícios está ao alcance de unidades bem
treinadas e equipadas. Mas por um período curto, como espaço de
segurança para negociações de um Norte para a Guiné-Bissau.
O
mesmo não se dirá dos outros objetivos da força: conclusão do processo
eleitoral e concretização da reforma do setor de defesa e segurança.
Este
é o nó górdio da instabilidade política, da criminalidade militar e da
inoperância judicial da última década. A dita reforma, traduzida para linguagem
comum, significa simplesmente a desmobilização de milhares de homens, muitos
dos quais nunca tiveram outra ocupação em toda a sua vida.
Os
numerosos “generais” e outros “oficiais” de alta patente que não sabem ler nem
escrever, lutam desesperadamente contra o seu afastamento dos quartéis. E as
gerações mais novas, soldados pé descalço em casernas degradadas e salários
ínfimos agarram-se às armas como boias de ilusória salvação.
A
dita força de interposição será vista como invasão estrangeira e estes
militares mobilizarão a população contra ela e usarão todos os meios para a
derrotar. Como fizeram aos contingentes do Senegal e da Guiné-Conacri, em 1998,
aos quais provocaram elevado número de mortos e uma retirada humilhante.
Mesmo
que expulsos de Bissau, a cidade não passará de reduto sitiado, frequentemente
flagelada, sendo elevado o risco de muitas baixas.
A
não ser que a CPLP consiga aliciar milhares de “generais”, “oficiais” e
soldados com reformas em moeda forte e lhes compre as Kalashnikov e as RPG7,
aquela sua força será mais de imposição que de interposição. E terá muitas batalhas pela
frente.
Vencendo-as, como se deseja, a realização da segunda volta das eleições presidenciais será a demonstração do seu sucesso e a certidão de nascimento de uma nova Guiné.
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