domingo, 15 de abril de 2012

Batalhar pela Guiné-Bissau



O Conselho de Ministros da CPLP, reunido ontem em Lisboa tomou conhecimento, consternado, do golpe militar na Guiné-Bissau. Condena-o veementemente e exige a imediata reposição da ordem constitucional, da legalidade democrática e a conclusão do processo eleitoral.

Exige ainda a preservação da integridade física e a libertação imediata e incondicional de todos os titulares de cargos públicos e demais cidadãos sob custódia dos militares sublevados.

Até aqui é o habitual, vem nos manuais diplomáticos, incluindo a ameaça de sanções internacionais e a proibição de viagens, congelamento de ativos e a responsabilização criminal.

Onde a posição da CPLP fia mais fino é na constituição de uma força de interposição para a Guiné-Bissau.

Di-la de interposição, mas não passa de camuflagem terminológica, pois a sua missão só terá sucesso com um dispositivo de envergadura dotado de meios bélicos pesados.

A desejada garantia da ordem constitucional e a proteção das instituições e das autoridades legítimas são viáveis, pois Bissau é uma cidade pequena e a ocupação e defesa de alguns edifícios está ao alcance de unidades bem treinadas e equipadas. Mas por um período curto, como espaço de segurança para negociações de um Norte para a Guiné-Bissau.

O mesmo não se dirá dos outros objetivos da força: conclusão do processo eleitoral e concretização da reforma do setor de defesa e segurança.

Este é o nó górdio da instabilidade política, da criminalidade militar e da inoperância judicial da última década. A dita reforma, traduzida para linguagem comum, significa simplesmente a desmobilização de milhares de homens, muitos dos quais nunca tiveram outra ocupação em toda a sua vida.

Os numerosos “generais” e outros “oficiais” de alta patente que não sabem ler nem escrever, lutam desesperadamente contra o seu afastamento dos quartéis. E as gerações mais novas, soldados pé descalço em casernas degradadas e salários ínfimos agarram-se às armas como boias de ilusória salvação.

A dita força de interposição será vista como invasão estrangeira e estes militares mobilizarão a população contra ela e usarão todos os meios para a derrotar. Como fizeram aos contingentes do Senegal e da Guiné-Conacri, em 1998, aos quais provocaram elevado número de mortos e uma retirada humilhante.

Mesmo que expulsos de Bissau, a cidade não passará de reduto sitiado, frequentemente flagelada, sendo elevado o risco de muitas baixas.

A não ser que a CPLP consiga aliciar milhares de “generais”, “oficiais” e soldados com reformas em moeda forte e lhes compre as Kalashnikov e as RPG7, aquela sua força será mais de imposição que de  interposição. E terá muitas batalhas pela frente.

Vencendo-as, como se deseja, a realização da segunda volta das eleições presidenciais será a demonstração do seu sucesso e a certidão de nascimento de uma nova Guiné.




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