A Guiné-Bissau vive um regime militar encapotado. O “general”
António Indjai e os seus sicários depuseram, há um ano, outro militar golpista.
Os políticos eleitos, cobardes, meteram o rabo entre as pernas
e abençoaram o golpista, chancelando a sua nomeação como “chefe de estado-maior
general”. Desde então os processos dos assassínios de políticos e
militares, por homens fardados, continuam engavetados. Há poucas semanas
mais um militar foi assassinado por homens com fardas e Kalasnikov e não se conhecem
quaisquer investigações.
Entretanto, Angola, a pedido do governo guineense e com
apoio internacional, enviou uma missão de apoio à reforma do setor de Defesa e
Segurança, a Missang, que está a reforçar.
Os angolanos, com décadas de experiência de guerra, não
mandaram dois adidos de defesa e três diplomadas. Bem pelo contrário, estão a
dotar a missão de capacidade operacional. As últimas notícias dão conta da
chegada a Bissau de uns quantos veículos blindados e helicópteros angolanos
para as centenas de soldados já no terreno.
Se Indjai e comparsas toleraram a presença angolana, foi na
expectativa de que trazia pão para a tropa esfomeada e cimento para reparação
dos quartéis em ruínas.
Agora, ao verem que Angola instalou um dispositivo militar com
potencial de intervenção, exigem a retirada da Missang. Percebe-se porquê.
A partir do momento em que as forças angolanas tiveram dimensão,
equipamento e mobilidade são uma ameaça para os golpistas de Indjai, para os outros
assassinos à solta e para todos os que conspirem contra as instituições. A Missang não resistirá a sucessivas batalhas, mas poderá lançar golpes de mão que neutralizem rebeliões e deitam mão aos seus mandantes.
Finalmente um gesto de coragem. De uma mulher. Determinação
que pode ter garantido o futuro da Guiné-Bissau. Até que enfim alguém faz
frente aos militares, que não se verga aos seus atropelos à lei e à ordem.
Falta ver se os consegue travar.
Só os próximos tempos mostrarão se o Presidente a eleger em
breve terá coragem, engenho negocial e firmeza para repor a obediência militar e
dar à Guiné-Bissau um futuro.
Angola e a sua Missang, Portugal e a CPLP, a CDEAO e outros amigos podem ajudá-lo, mas só se os políticos guineenses quiserem aquartelar insurretos e restaurar a confiança interna e internacional no país.
Sem isso, ao próximo golpe militar sem pudor nem disfarce só falta a data.
???
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