quinta-feira, 5 de abril de 2012

Guiné-Bissau entre o golpe e a esperança


A Guiné-Bissau vive um regime militar encapotado. O “general” António Indjai e os seus sicários depuseram, há um ano, outro militar golpista.
Os políticos eleitos, cobardes, meteram o rabo entre as pernas e abençoaram o golpista, chancelando a sua nomeação como “chefe de estado-maior general”. Desde então os processos dos assassínios de políticos e militares, por homens fardados, continuam engavetados. Há poucas semanas mais um militar foi assassinado por homens com fardas e Kalasnikov e não se conhecem quaisquer investigações.
Entretanto, Angola, a pedido do governo guineense e com apoio internacional, enviou uma missão de apoio à reforma do setor de Defesa e Segurança, a Missang, que está a reforçar.
Os angolanos, com décadas de experiência de guerra, não mandaram dois adidos de defesa e três diplomadas. Bem pelo contrário, estão a dotar a missão de capacidade operacional. As últimas notícias dão conta da chegada a Bissau de uns quantos veículos blindados e helicópteros angolanos para as centenas de soldados já no terreno.

Se Indjai e comparsas toleraram a presença angolana, foi na expectativa de que trazia pão para a tropa esfomeada e cimento para reparação dos quartéis em ruínas.
Agora, ao verem que Angola instalou um dispositivo militar com potencial de intervenção, exigem a retirada da Missang. Percebe-se porquê.
A partir do momento em que as forças angolanas tiveram dimensão, equipamento e mobilidade são uma ameaça para os golpistas de Indjai, para os outros assassinos à solta e para todos os que conspirem contra as instituições. A Missang não resistirá a sucessivas batalhas, mas poderá lançar golpes de mão que neutralizem rebeliões e deitam mão aos seus mandantes.

E foi deste imbróglio político, militar e diplomático, que veio uma ténue luzinha de esperança. O governo interino, dirigido pela senhora Adiato Nandigna, manifestou, em comunicado, a sua firme determinação em manter e reforçar a presença militar angolana no país.

Finalmente um gesto de coragem. De uma mulher. Determinação que pode ter garantido o futuro da Guiné-Bissau. Até que enfim alguém faz frente aos militares, que não se verga aos seus atropelos à lei e à ordem. Falta ver se os consegue travar.

Só os próximos tempos mostrarão se o Presidente a eleger em breve terá coragem, engenho negocial e firmeza para repor a obediência militar e dar à Guiné-Bissau um futuro.
Angola e a sua Missang, Portugal e a CPLP, a CDEAO e outros amigos podem ajudá-lo, mas só se os políticos guineenses quiserem aquartelar insurretos e restaurar a confiança interna e internacional no país.
Sem isso, ao próximo golpe militar sem pudor nem disfarce só falta a data.

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