quinta-feira, 10 de março de 2011

Exclusão aérea ou recusa de fundamentalismo?

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Líbia
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A demora na decisão de criar uma zona de interdição à força aérea do ditador líbio pode ter várias razões.

E o Secretário americano da defesa já explicou que a expressão é um eufemismo. Exclusão aérea é o rótulo de uma vasta operação militar de destruição da força aérea e da defesa antiaérea líbias.

Vejamos.

Cenário 1 – Parceria militar alargada

Americanos e europeus estão a negociar o envolvimento de outras potências no cerco às forças de Kadafi. Demora tempo e as movimentações diplomáticas têm, nesta fase, tanto ou mais peso que as manobras bélicas. Basta ver que o próprio ditador mandou a Lisboa e Bruxelas representantes seus, que certamente trouxeram moeda de troca para a sua permanência em Tripoli.

Cenário 2 – Tropa em marcha lenta

Os americanos, a NATO e outros parceiros estão a planear a operação e não querem dar quaisquer sinais de aviso. Lembremo-nos dos militares das forças especiais britânicas capturados em solo líbio. Embora sob camuflagem de negociações, daí os diplomatas no grupo, não seria surpreendente se integrassem uma expedição de reconhecimento. Ou seja, a “comunidade internacional militar” estará já a estudar um dispositivo.

Cenário 3 – Preparar terreno para aliado

EUA, UE, Rússia e países árabes pro-ocidentais não apoiam a oposição armada com receio de estarem a armar e municiar fundamentalistas islâmicos. E estarão, a mata cavalos, a tentar perceber quem é esta oposição, quem os comanda e que dogmas ou ideologias os acalentam. E que confiança merece.

O islamismo ainda é visto como algo atávico ao mundo árabe, quase genético. Porém, a sua faceta fundamentalista é fruto da miséria, da ignorância e do analfabetismo a que os regimes votaram os cidadãos e que os chefes religiosos aproveitaram. Em muitas regiões desses países, o obscurantismo conduziu a interpretações radicais do Alcorão. Essas leituras enviesadas pretendem retomar práticas cruéis há muito afastadas da vida quotidiana dos herdeiros da Revolução Francesa.

E é esse o medo da Europa e restante mundo que tem na liberdade uma pedra de toque. Ajudar fundamentalistas islâmicos a instalarem-se no governo é inaceitável. Por isso, até um sucedâneo de Kadafi é melhor que uma sanguinária oligarquia às portas do velho continente.

Ora, sem saber quem é quem naquela parte do Mediterrâneo, a exclusão aérea aguarda por um interlocutor que garanta padrões cívicos mínimos na Líbia.

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